domingo, 22 de fevereiro de 2009

Ajuda a nevegaçao 3

Outra vez...

Tenho estado pouco tempo na internet. Mas escrevo sempre o meu diario de viagem. Assim, que vou publicar menos vezes, mas talvez aos magotes!

Podem ler tudo fazendo scroll na pagina, ou simplesmente aproveitar estes links para clicar e ler na ordem cronologica. Depois basta carregar em "pagina inicial" (ou "home"), no fundo do articulo-pagina, e voltar a pagina inicial.

Rishikesh, os yôgas...

A vida de ashram...

Coisas da Índia: conduzir a apitar


(Ignorem essa coisa que aparece sempre no fim de todos os textos a dizer "Leia o artigo completo CLIC". Essa funcionalidade nao esta a funcionar...)
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Coisas da Índia: conduzir e apitar!


O conceito de higiene, limpeza e poluiçao que temos na Europa não se aplica na Índia. Aqui tudo éende a ser muito mais poluido e sujo. O lixo nas ruas nem em Napoles seria concebivel! Junto ao mau funcionamento do saneamento (se é que existe) pode criar cheiros abjectos nas ruas. A poluiçao visual também é grande, com mil e um anuncios, de todo tipo de coisas, tudo bastante colorido e com pouco cuidado no design. Mas, para mim, a poluiçao que me fere mais, e fere muito, é a poluiçao sonora. Na Índia, como na maioria do países do médio oriente, buzina-se muito! Mmmuuiiiitttttooooo!

Na Europa considera-se falta de educaçao buzinar. Considera-se que quanto menos som produzimos melhor, mais bem educados (excepto música, claro). Na Europa só se buzina para sinalizar uma situaçao limite, perigosa. E se o buzinar é intenso, prolongado ou repetido o mais provavel é que o condutor esteja muito vermelho, zangado, stressado, e prestes a sair do veículo e dissolver o stress com uma bela discussao, que pode chegar a vias de facto! Aqui não. Aqui buzinar é comunicar. É falar. É dizer, estou aqui. Só isso. Eles buzinam muito, mas nem chegam a stressar por isso. Simplesmente continuam nas suas meditaçoes ou conversas, conduzindo caminho adiante. E é bastante normal que um a moto ou rickshaw se adentre por qualquer rua ou recanto, as 4 ou 5 da manha, com aquele barulho infernal que eles fazem so por estar a trabalhar, e ainda apite. Por está lá, existe.

Não há passeios. Os peoes andam na estrada. Na melhor das hipoteses na beira da estrada. Até se for a “auto-estrada”! Aliás, não sao só as pessoas. Também as vacas, caes, macacos, porcos, cabras, bufalos, burros, elefantes se houver... Na Europa os peoes têm prioridade. Aqui ter mota é motivo de orgulho. Por isso não importa se a ponte é estreita e essencialmente pedonal. A motoreta passa a apitar o caminho inteiro. Dói nos ouvidos. Mas para eles é normal! Os carros e rickshaws, assim como autocarros e camioes, não fazem por menos. Em geral vao no meio da estrada. Quando vem outro carro no sentido contrario ambos apontam para o centro, e no ultimo instante ambos se desviam cada um para o seu lado! E sempre a apitar. Não zangados, só a falar, “estou aqui, aqui vou, estou aqui, aqui vou....”.

Como tudo o demais ás vezes cansa. Tanta poluiçao, tanta falta de civismo, para os nossos padroes. Dói até. Mas também tem piada. E, sempre, vale mais rir que chorar. E já estava bastante farto de viajar pelo mesmismo da Europa. Estou contente.
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Vida de ashram

A traduçao mais facil e comum de ashram é mosteiro. Um local onde vivem e confluem pessoas dedicadas a aprender e ensinar o conhecimento, neste caso o sanscrito, o yoga , o vedanta, os vedas.

Na pratica um ashram costuma ser algo entre um mosteiro e um hotel, e ás vezes é mesmo as duas coisas. O ahram onde estou é basicamente uma instituiçao de ensino, e parece uma especie de campus universitário, embora mais pequeno e ao estilo indiano, ou seja, menos bonito, menos espaçoso, menos bem projectado, menos sofisticado. Mas ainda assim funcional. Os ashrams maiores e mais reputados fazem trabalho social e em alguns casos incluem escola, orfanato, hospital de leprosos ou outra coisa do genero. Não necessariamente esta tudo no mesmo perimetro, até porque o normal é ir crescendo, aos poucos, a medida que surgem fundos, nomeadamente donativos mais generosos que alguns devotos fazem. A maioria tem cantina, ou eventualmente ate restaurante comercial, aberto a qualquer pessoa que pague. Não tenda a imaginar uma igreja enorme com uma ampla estalagem anexa, como costumam ser os mosteiros cristaos. Tudo é mais recente, menos artistico, menos monumental, menos sólido. É tudo mais pratico e funcional, mais modesto, com pouca sofisticaçao, gosto e decoraçao. Outro factor a notar é que neste ashram onde estou, por exemplo, o templo onde se efectuam os rituais religiosos é o edificio mais pequeno de todos. Aliás, tenho reparado que os hindus, embora muito dados a cores garridas e um monte de pirosices, e embora sejam bastante religiosos, não tendem a construir templos muito grandes, pesados e monumentais. Têm é muitos. E os mosteiros é mais ou menos igual. Se você quiser considerar a sua cabana um mosteiro também pode ser. Aliás, a maioria destes ashrams começou dessa forma. Um swami (monge) ganha reputaçao, começa a ter apoios e aos poucos deixa de viver numa gruta ou cabana e começa a construir instalaçoes mais sólidas, que aos poucos vao crescendo. Este ashram onde estou foi mais um dos que começou assim. O monge principal vivia, como muitos outros, num kutir, ou seja, uma cabana, tipo pallhota, aqui mesmo junto ao rio. Mas ganhou fama e apoios, e aos poucos foi construindo um ashram.

O ashram onde estou é enorme. É o Swami Dayananda Ashram de Rishikesh, um dos mais antigos e bem considerados, sobretudo por indianos. Porque aqui o ensinamento ainda é mais tradicional, com muito sanscrito e vedanta. Dos pouco mais de 250 presentes neste primeiro curso, uns 200 sao indianos, a maioria gente mais ou menos endinheirada e de casta alta, e também bastantes swamis visitantes, que aqui estao como eu ou os demais, para aprender da boca do mestre. Alguns já vêm ouvir pela énesima vez. A média de idades deve ser os 50 anos. Talvez mais. A principal lingua falada é o inglês, que serve de lingua franca para todos. Alguns vêm para aprender filosofia, outros para aprender religiao e aprofundar-se na cultura, conhecimentos e rituais tradicionais do hinduismo. Aqui isso está tudo incluído e mais ou menos junto, e cabe a cada um saber pescar só aquilo que quer. Nada é imposto, e não há sectarismo religioso algum. Aliás, os conceitos de religiao e deus de um hindu sao um pouco diferentes dos nosso ocidentais. Por isso o swami ate evita falar de espiritualidade, deus ou religiao, porque sabe que essas palavras tendem a gerar mais equivocos qu eentendimento. Mas também não se pense que, apesar do nivel cultural e economico ser alto (muitos professores, alguns médicos, e tal), e do ensinamento ser essencialmente filosófico, na verdade humanidade é...humanidade. E há muita gente, principalmente indianos, que vêm aqui por questoes puramente religiosas, por crença, para rezar, para cumprir com obrigaçoes rituais e tradicionais, para fazer boa acçao e acumular bom karma, para tentar entender e resolver algum dos seus probleas e sofrimentos, e quiça o swami tenha alguma receita mágica para resolver tudo...

As instalaçaoes deste ashram contêm cerca de 150 quartos, uns de 2 outros de 3 pessoas, com capacidade para cerca de 300 pessoas. Sem luxos, mas um conforto razoavel (para a Índia e para um mosteiro). Além das habitaçoes o mosteiro tem as cantinas, recepçao, templo, livraria e biblioteca, e três salas de estudo, conferencia e ou pratica.

A cantina é exemplar do que é a vida comunitária no ashram. É grande, com várias salas que acessam umas ás outras. Mas tem só algumas poucas mesas de plastico, que se pressupoe estarem ali para as pessoas mais velhas ou com algum problema fisico. A maioria das pessoas come sentada no chao, sobre um fino tapete, de pernas cruzadas, lado a lado com os demais. Come-se num tabuleiro de metal, e bebe-se num copo de metal. Pode-se comer com a mao ou com ajuda de uma colher. Sempre com a mao direita, que os hindus consideram a limpa. Eu ainda não consegui comer à mao... A comida é servida (a horas fixas) directamente das panelas. Servida por voluntarios de entre os participantes no curso aos demais participantes, que vao em fila passando e sendo abastecidos. Não há escolha. Só se pode pedir um pouco mais ou menos, mas a comida é igual para todos. Geralmente é arroz, alguma coisa com batata, algum outro vegetal (ervilhas, por exemplo), um molho qualquer dado a picante e pao. Pao quer dizer: algo parecido a crepe... As vezes tem algo doce, algo parecido a arroz doce, que até pode ser servido e comido junto ao resto! A comida nunca tem alho ou cebola, que sao considerados impuros, sexualmente estimulantes, “rajasicos”, ou seja, criadores de movimento, instabilidade. A comida, embora básica, nem é má. Eu gosto. O problema está em que é assim quase todos os dias, quase igual, 3 x por dia (pequeno almoço incluído), 7 dias por semana! Para quem escolheu vida de monje renunciante e encarou a serio a possibilidade de uma vida errante, sem confortos, esta alimentaçao até deve superar as expectativas. Mas para alguém habituado a uma vida mndana, que está sempre a variar e diversificar, e que come o que quer quando quer isto exige uma certa habituaçao... De qualquer forma também não é nenhum grande sacrificio, e quem quer pode sair e ir comer fora. Depois de comer cada um vai lavar o seu copo e tabuleiro aos lavadores exteriores ao comedor e deposita-os já limpos no respectivo local. Ou seja, não há luxo nenhum, apenas sentido pratico. E se para um ocidental isto pode pecar por alguma falta de conforto e sofisticaçao no serviço ou instalaçoes, para os hindus, muitos deles de casta alta e e bom poder económico, é muito mais siginficativo que tenham de servir a comida e limpar o próprio prato. Não o fariam em casa, mas aqui, para eles, é ritual, é um acto de contricçao e humildade, é uma pequena rendiçao, acumulam bom karma...

Também se espera que cada um tome conta da própria habitaçao, (que em geral é partilhada), nomeadamente no que a limpeza diz respeito. Não há serviço de quarto! Nem sequer lençois! Só o básico: cama, cobertor, luz, W.C....Na realidade as instalaçoes sao muito boas para o padrao de um hotel indiano isto seria quase de 2 ou 3 estrelas. Já não me lembro da ultima vez que lavei roupa a mao! Até há serviço (pago, mas barato) de lavandaria, mas usam agua que talvez seja a do rio, ou pior, sabao pouco, e lavam e secam a roupa a paulada. As vezes vem rota. Mais vale lavar no quarto...

A esta altura é importante dizer algo: tudo isto é gratuito! Os cursos e demais actividades, a estadia no quarto, as refeiçoes... não é pouco. Claro que se pode (e deve) contribuir voluntariamente com algo. Tipo 10 euros (500 a 600 rupias) por dia é uma soma bastante agradável nestas partes, e bastante acessivel para um ocidental. Quer quer dá mais, e há quem dê, e há quem não dê nada... Geralmente à hora da refeiçao menciona-se o nome de alguns patrocinadores mais generosos, quase sempre indianos hindus, para quem tudo isto é tradiçao, religiao e ritual.

O regime não é militar. Está tudo bem organizado, mas nada é imposto. Posso sair quando quiser e só vou as aulas que quiser. Mas vim com o propósito de aprender algo e por isso estou a seguir o curso quase integralmente, neste caso o Camp 1- Vedanta didinmah (“isto proclama o Vedanta”), que dura cerca de 10 dias, 3 aulas de uma hora por dia. Para além disso posso ir a meditaçao guiada as 7. 00, estudar sanscrito de manha e a tarde, e até ir a classe matinal de Hatha yôga (muito suave e terapeutico), ou a classe de musica, e ainda frequentar o sat sanga nocturno (20.30), onde se vocalizam mantras em grupo, e o swami responde a perguntas que qualquer um pode fazer. Para quem quer ainda há os pujas feitos no templo. Não faço tudo. Embora esteja já entrar na rotina do ashram seria demais para mim. Até porque as aulas de Vedanta, só por si, sao bastante intensas, e convem ter algum tempo para reflectir e meditar sobre o assunto. De dois em dois dias, à tarde, saio e vou fazer uma aula de Hatha yôga às 17. 00 com um professor que conheci e estou a gostar bastante. Sao duas horas intensas, da qual (ainda) estou a sair compeltamente esgotado. Também faço a minha própria pratica de yôga todos os dias, uns 45 minutos. E tento ir a meditaçao matinal e aos sat sangas nocturnos que sao bastante bons. As vezes saio com mais alguém no pouco tempo livre que sobra, seja para ir comer fora ou comprar alguma coisa necessária. Ou só para distrair um pouco! Quem quiser pode começar às 4 30 da manha com o primeiro puja no templo, e só acabar às 22 00, depois do sat sanga, quase sem pausas, a nao ser uma pequena depois do almoço, que a maioria aproveita para uma curta sesta.

Os horarios durante este Camp sao assim:

  • 4.30 – puja no templo

  • 7.00 – meditaçao

  • 8.00 - pequeno almoço

  • 9.00 - vedanta dindimah (classe de vedanta)

  • 10.00- yoga, sanscrito, ou musica vedica

  • 11.30- vedanta dindimah (classe de vedanta)

  • 12.30- almoço

  • 16.00- sanscrito, ou musica vedica

  • 17.00- vedanta dindimah (classe de vedanta)

  • 18.30- puja no templo

  • 19.30 – jantar

  • 20.30 – sat sanga

Dentre dos cerca de 70 estrangeiros (media de idades deve ser 35 anos) presentes há-os dos 4 cantos do mundo. Bastantes japoneses,sempre super compenetrados, bastantes brasileiros, portugueses somos 3, australianos há bastantes, embora seja uma comitiva que parece ter caido aqui de paraquedas e estar meio perdida. Acho que a maioria esperava outro tipo de Yôga, mais Hatha Yôga. Mas aqui o Hatha yôga (o yôga mais pratico, mais fisico digamos assim) é considerado meramente um meio, um meio para dar limpeza, saúde, força, vitalidade e disciplina ao corpo e mente, de forma a poder pensar e meditar melhor, de forma a consagrar melhor todos os recursos à cultura, ao estudo, ao conhecimento, ao jñana, ao vedanta... Imagino que vir de um yoga de ginásio directamente para aqui deve ser, no minimo, um choque. Provavelmente uma desilusao. Enquanto para muitos (inclusive para mim) isto é o culminar do ensino do yôga, para outros, vê-se na cara, perguntam-se: o que raios faço eu aqui?

Outra coisa que se pressupoe, e que alguns ocidentais têm dificuldade de entender e respeitar, é que isto é um mosteiro. Um sitio dedicado ao ensino. Um sitio que foi construido por e para Swamis (monjes) celibatários, que resolveram dedicar toda a sua Vida a meditar, a aprender e ensinar o conhecimento vedico, nomeadamente o sanscrito, vedanta e o yoga, e que renunciaram a tudo o demais. Monjes celibatários! Ora, se até para um indiano comum, numa rua comum, ver uma mulher loira e de roupas justas (se mostrar os ombros e as pernas pior. Ou melhor, nem sei) já causa quase o mesmo efeito que na Europa causariam mulheres nuas em praias que não sao de nudistas, imagine-se dentro de um ashram! Aqui pressupoe-se que ninguem vem para desfrutar de uma vida “social”. Assim, e embora o ambiente seja bastante agradável e relaxado, espera-se que as roupas evitem grandes decotes e sejam folgadas, ou pelo menos não evidenciem as formas. Talvez por condicionamento cultural há muita gente vestida de branco, principalmente ocidentais, que tendem ás vezes a ficar mais indianos que os próprios indianos. Até porque os indianos tendem a vestir-se cada vez mais como ocidentais! Mas a verdade é que as roupas tradicionais, nomeadamente os pijamas, sao bonitos e confortáveis. Pelo menos parecem, porque ainda não me converti! Cai bem, ou seja, demonstra respeito, se os cabelos estiverem apanhados, e convem não abusar de perfumes. Abraços, beijos e maos dadas entre homens e mulheres...nao. Nem aqui nem em qualquer local publico indiano. Na india tradicional isso não existe, nem o nosso namoro... Depois de olhares discretos passa-se directo ao casamento! A maioria das mulheres ocidentais sao consideradas...liberais, fáceis, ou até prostitutas! E não sei se eles gostam ou não, acredito que tenham um pouco de inveja nossa. Mas aqui no ashram não. Ninguém recrimina ninguém, já estao habituados a ocidentais, mas espera-se um pouco de pudor. E não custa, é uma questao de respeito.

Enfim, apesar do programa intenso e das demais condicionantes, isto era exactamente o que vinha a procura. Está a superar as minhas expectativas todas, nomeadamente a nivel de qualidade do ensino, e por isso estou contente.

Depois conto mais, sobre os swamis (monjes) e sobre o que mais houver a contar...



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Rishikesh, os yôgas, o ashram, o estudo...


Estou em Rishikesh.

Rishikesh, a cidade dos rishis, os sábios, os que estao conectados a Brahma, ao ilimitado, ao irrestricto, e que dele sao um veículo, que expressa a sua perfeita infinitude e unidade. Hoje, como desde há séculos e séculos, gurus procuram transmitir essa sabedoria (veda) através do parampárá (a tradiçao oral, passada de guru a discipulo). Muitos caminhos, muitos yogas, sao tomados por ainda mais gurus, estudantes e praticantes, seja para se iluminarem seja simplesmente para beneficiarem num ambito mais limitado, por mais contraditório que isso seja.

Rishikesh é uma pequena cidade ás margens do Ganges, ligeiramente a norte de de Haridwar. Haridwar é outra cidade sagrada para os hindus, que até ali peregrinam, e que ali realizam um Maha Kumbha Mela a cada 12 anos (o Grande K M, o maior festival religioso hindu (e do mundo), que junta cerca de 15 milhoes de devotos, acompanhantes, trabalhadores e curiosos, realiza-se alternadamente em cada uma das cidades santas da Índia a cada 12 anos, creio). Rishikesh também é considerada cidade sagrada, mas é mais pequena e menos tradicional para os indianos. Mas está cada vez mais popular e muitos peregrinos hindus, de muitas partes do país afloram a cidade, seja para se banharem no Ganges, que aqui, relativamente perto das suas nascentes, é limpo (menos sujo), seja para orarem nalgum dos templos e lá fazerem os seus pujas, seja para consultar algum guru, seja por tradiçao e curiosidade.

A maioria dos ashrams e escolas, e agora também os hotéis e estalagens, restaurantes e lojas, estao nas duas margens do Ganges que se estendem uns 3 km acima de Rishikesh. Há duas estreitas pontes supostamente pedonais. Mas os indianos metem motas em todo lado e por isso também lá passam motociclos, sempre a apitar como é óbvio. Também se pode atravessar de barco.

Os estrangeiros sao muitos, talvez um terço da populaçao nesta epoca do ano, a epoca alta, quando não esta nem muito frio nem muito calor. Vêm (vimos) quase todos por um motivo: yôga. Alguma forma ou entendimento do yôga. E sao muitos! Diz-se que esta é a “capital mundial do yôga”. O motivo é o numero e credibilidade de ashrams e gurus que aqui floresceu no século passado, e que criou fama. O sitio é de facto propicio, pois é pequeno e calmo, limpo, calmo, fresco, perto dos Himalayas, junto ao sagrado Ganges e de algumas das suas nascentes principais, perto de uma cidade grande e sagrada (Haridwar), ou seja, acessivel e propicio a estabilidade (satwico), a reflexao, a meditaçao. Tinha tudo para dar certo, e deu. Hoje já não é tao idilico, o turismo espiritual esta a massificar-se cada vez mais, mas ainda é extremamente agradável. Depois de Delhi, Agra e Varanasi tive a sensaçao de chegar ao paraíso, finalmente o éden prometido! Os Beatles visitaram o local na década de 70 e popularizaram o que já era um destino preferencial para conhecedores. A partir de aí nunca mais parou de crescer a fama da cidade como “o sitio” eleito por e para yôgins. E aqui há yôga de todas as variadades e para todos os gostos. Tantas que chegam a ser quase impossiveis de reconhecer-se umas nas outras. E isso faz tudo ser ainda mais interessante. É só escolher o que queremos aprender, e com quem. É tipo um parque de diversoes para yôgins...

Se soubermos o que procuramos e tivermos boas referencias é fácil. Alguns sitios sao pagos a hora, sem grandes compromissos e complicaçoes. Outros sao gratis, ou seja, aceitam donativos livres. Estes últimos sao quase sempre os ashrams maiores e mais tradicionais, do tipo religioso, como o que eu estou.

Fico a pensar nos novatos, sem referencias e que vêm aprender do zero, ou pior, do quase nada (o quase nada é o pior estado, porque é mesmo quase nada mas é o suficiente para gerar muitos preconceitos, ideias feitas e pretensoes. Os praticantes mais fanáticos e dogmaticos costumam ser os novatos que sabem quase nada). Quem cai aqui de férias e se entrega à sorte pode ficar totalmente perdido. Há dezenas de anuncios para classes e cursos de yôga. Alguns levam simplesmente ao quintal ou “sala de estar”de um indiano qualquer, que tanto pode ser um yôgi extremamente competente como um charlatao atrás de mulheres ocidentais idealistas, ingénuas e “liberais”. Ainda assim há muita coisa muito boa e séria por aqui, e o sitio é realmente agradável. Nao recomendaria nunca começar a praticar yôga por cá, mas, para quem já sabe o que está a fazer e tem boas directivas e referencias é excelente, seja para fazer cursos mais ou menos prolongados de aperfeiçoamento ou seja simplesmente para fazer umas férias a praticar yôga num lugar com tradiçao.

O primeiro sitio onde fui foi ao ashram onde reinam dois “babas” “iluminados”: uma americana e um brasileiro! É um sitio totalmente ocidentalizado, onde não vi um unico indiano. É feito por e para ocidentais. E os ocidentais conseguem ser muito mais misticos, esotericos, idealistas e alucinados que os indianos! Felizmente os brasileiros também sao genios da música e por isso o Sat sanga (“reuniao em boa companhia”, onde geralmente se vocalizam mantras, se discute ou houve sermao filosofico, e se medita) do baba brasilerio foi bastante agradável. Aliás, não só pela música, mas também pelo sitio que é dos melhores aqui na zona, mesmo por cima duma curva no Ganges, e também pelo sermao que o “baba” deu depois os mantras e antes da meditaçao guiada. Entre umas merdas new age com astrologias e evolucionismo à mistura (“hoje, precisamente hoje, abre-se a porta para uma nova era...”) lá falou da necessidade de quase todos temos de ser “amados em exclusivo”, de como o nosso ego quer sempre receber, mais e mais, mas raramente se predispoe a dar e deixa fluir, e como isso bloqueia tudo e tal... até gostei.

Ainda nesse mesmo dia, a tarde, quando tentava encontrar um professor bastante famoso que queria conhecer mas ninguém parecia saber onde raios está, acabei por ser levado por um casal que encontrei e ia a caminho de outra pratica ali perto. Era de Ashtanga “Vinyasa” yôga, daquele bem ortodoxo e amplamente conhecido. É uma pratica 99% fisica, bastante intensa, só acessivel a quem está numa forma fisica boa ou optima, ou pelo menos quer vir a estar. Sua-se mais que numa sauna. Gostei e entretanto já repeti a dose. Depois conto mais.

Entretanto ontem vim para o ashram. Hoje começou o primeiro curso que cá vou fazer. É de Vedanta. Ou seja, consiste em ouvir o swami (o monge) a explanar sobre Vedanta atraves do estudo de um texto, texto original em sânscrito. Este estudo de Vedanta pode e deve ser acompanhado de meditaçao e se possivel estudo do sânscrito. E a isso se chama Jñana yôga. Depois conto mais.

Em 4 dias já tive 3 experiências de yôga completamente distintas umas das outras. Por acaso no SwáSthya já tinha acesso a todas elas, por isso foi fácil perceber e enquadrar o que vou encontrando, porque embora a linha ou o contexto seja diferente, o SwáSthya dá realmente boas bases, uma base ampla e completa para enquadrar quase tudo que se queira e encontre. Assim as mentes estejam abertas...

Depois de tanta viagem e caminhada, depois de uma semana a conhecer tanta gente, a fazer praticas em diferentes escolas e de tipos tao diversos, eis que entrei no regime do ashram. Este ashram está ainda pegado a cidade de Rishikesh, embora mesmo junto ao rio. Por isso está a cerca de 1 km da primeira ponte e ligeiramente deslocado da maioria do movimento de turistas. É um ashram enorme. Tem cerca de 150 quartos, uns de 2 outros de 3 pessoas, com capacidade para cerca de 300 pessoas. Sem luxos, mas um conforto razoavel (para a Índia e para um mosteiro). Por sorte ou azar, nem sei, (ainda) estou sozinho no quarto, a aproveitar uma privacidade rara nestas circunstancias. Para este primeiro curso estao presentes cerca de 250 pessoas. Mais de metade sao indianos, a maioria do sul da Índia, de castas altas, e que vêm aprender com o Swami Dayananda, que para muitos deles (como para muitos dos ocidentais) é um guru (um professor) e ou um Deus vivo, ao qual sao devotos. Aqui na Índia isso (“ser Deus”) não tem o significado e peso que lhe damos no ocidente. Significa apenas que sabe quem é, e é Brahma. E qualquer um de nós pode e deve procurar esse mesmo conhecimento. Assim, um professor, principalmente se o considerarem iluminado, é objecto de devoçao. E o Dayananda é conhecido em toda a Índia, e em todo mundo, e tem devotos. Nem por isso é guru de massas. Por ano terá alguns milhares de ouvintes em todo mundo, dos quais umas centenas serao estudantes aplicados. Além dele próprio costumam estar presentes uns 20 outros swamis, alguns seus discipulos, alguns residentes do ashram, a maioria homens e indianos, mas também algumas mulheres e ocidentais. Esse outros swamis colaboram nas tarefas de ensino e administraçao do ashram, sendo professores Vedanta, sânscrito, música ou yôga. Alguns já têm mais de 70 anos. Além das habitaçoes o mosteiro tem as cantinas, recepçao, templo, e três salas de estudo e ou pratica. O regime não é militar. Posso sair quando quiser e só vou as aulas que quiser. Mas vim também com o propósito de aprender algo e por isso vou seguir o curso, neste caso o Camp 1- Vedanta didinmah (“isto proclama o Vedanta”), que dura cerca de 10 dias, 3 aulas de uma hora por dia. Para além disso posso ir a meditaçao guiada as 7. 00, estudar sanscrito de manha e a tarde, e até ir a classe matinal de Hatha yôga (muito suave e terapeutico) e ainda frequentar o sat sanga nocturno (8.30), onde se vocalizam mantras em grupo, e o swami responde a perguntas que qualquer um pode fazer. Não vou fazer tudo. Estou cansado, o corpo doi-me das praticas intensivas que fiz antes, não me apetece estar sentado de pernas cruzadas e quieto mais que aquelas 5 horas por dia minimas.

Sinceramente o primeiro dia custou-me um pouco, não obstante o swami seja realmente divertido e genial a passar o ensinamento filosofico. É realmente interessante. É precisamente o que tinha esperança de encontrar. Até supera as minhas expectativas. Mas depois de tanta diversao, depois do regime de férias, de conhecer tanta gente e mover-me tanto, de viajar e passear, das praticas diversas e avulsas feitas quando me apetecia, depois da festa, de repente, entrar em plano de estudo intensivo e estavel num local com horario preenchido, pré-definido, e onde há uma serie de normas de estar básicas a ser em respeitadas, não me pareceu muito divertido. Nem mesmo se estive com gente que já conhecia, conheci mais alguns e falei português pela primeira vez em duas semanas! Acho que é cansaço... Mas hoje estou algo depressivo, com saudades. Saudades de pessoas que conheço e gosto mesmo. Coisas de viajante, coisas da Vida. E vice-versa. Há momentos e momentos...

Até amanha.


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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Ajuda a navegacao 2

Outra vez...

Tenho estado pouco tempo na internet. Mas escrevo sempre o meu diario de viagem. Assim, que vou publicar menos vezes, mas talvez aos magotes!

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Ainda Delhi, Old Delhi, Real india

Agra e o Taj Mahal

Varanasi

Viajar, sozinho ou com socio?

Experiencias espirituais, yoga na India

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Experiências espirituais


Quem me conhece bem, principalmente quem me conhece a mim e ao meu mundo do yôga bem, sabe que uso o termo espiritual de forma irónica e provocadora. Provocadora para com o meu próprio mundo do yôga, provocadora para mim mesmo, ironica para quem não me conhece assim tao bem, e por isso nem sequer pereceb a ironia.

Não me considero uma pessoa espiritual. Nem não espiritual. Mas o que nao me considero e "espiritualista", alguem obcessionado com essa tal de espiritualidade, seja la o que isso for. O DeRose esta certo. A espiritualidade existe, está aí. É parte da existência, da consciência, da Vida. Como o corpo, ou as emoçoes... Mas ninguém anda por aí a dizer que é “corporal”, ou que vai fazer viagens “corporais”. Quem está sempre a falar do corpo sao as pessoas gordas ou doentes. É o mesmo da “espiritualidade”. Quem fala constantemente nisso é quem está com problemas na area. Senao a “espiritualidade” simplesmente está ali...

Mas no mundo do yoga a maioria das pessoas gosta de se dizer espiritual, que o yôga é espiritual, que a espiritualidade isto e aquilo e aqueloutro. A maioria das vezes nem sequre sei do que estao a falar. Estao a falar de filosofia, de religiao, de pensamento, de intuiçao, de intimidade, de Deus, do “si mesmo”, de tudo, de nada...de quem, de quê? Tenho a certeza de que a maioria das pessoas não faz a minima ideia, porque quando pergunto não conseguem responder.

Mas neste blog, só para chatear, vou também falar de espiritualidade, de viagem espiritual, de yôga como algo espiritual, de eu ser espiritual...é uma mini libertaçao pessoal em relaçao a alguns preconceitos e condicionamentos. Rsrsrsrsrrs

Londres espiritual

Em Londres pratiquei bastante, intensivo mesmo. Muitas vezes duas x por dia, uma hora e meia cada pratica. SwáSthya, geralmente ao fim de tarde, e algo mais pela manha. Como do SwáSthya já estou farto de falar vou falar do resto. Mas continuo a achar que o SwáSthya é a melhor experiência de yôga que já tive até hoje.

Durante 10 dias fui todos os dias ao centro de Jivamukti Yoga em Londres. Além de ficar a 5 minutos a pé de onde estive a morar tinha curiosidade em conhecer proque é uma das escolas actualmente mais famosas. Um franchising em expansao pelo mundo. Tornou-se famoso nos anos 90 quando a escola de NYC (entao a única) acolhia frequentemente gente conhecida do mundo do cinema e música, como Sting, Madona, Shara Jessica Parker e outros. Com essa publicidade e com a explosao de numeros no mundo do yoga ocorrida desde 2000 a escola tornou-se uma empresa, internacionalizou-se, e está hoje presente nas principais capitais mais ricas do mundo. É uma escola de ambiente agradável, em algumas coisas até parecida com o SwáSthya, que organiza workshops regularmente, faz sat sangas, e tem uma prática simples, adaptada e simplificada do Ashtanga “vinyasa” yoga, não seguindo essa pratica a rigor, o que, na minha opiniao é um ponto positivo a mencionar. O promenor que achei mais interessante é que no começo da classe e no fim, durante o relaxamente/descanso em shavásana (não tem yôganidrá) os instructores passam nas costa e depois no pescoço, de uma forma massageante, um creme relaxante (ou estimulante, nem sei bem) daqueles que deixa uma sensaçao intensa de frescura, e sobretudo um cheiro muito agradável. Tendo em conta que a pratica faz suar imenso é um aroma e frescura bem vinda. E quando estamos deitados no fim a relaxar a sensaçao é fantástica. Não tem nada a ver com yôga própriamente dito, mas sabe bem. E uma parte significativa dos (dAs) alunos compram o dito creme á saída da escola... O problema destas escolas, com este tipo de pratica, é que ao fim de 10 dias eu já sabia a pratica dememória, e começou a ser repetitivo. Por um lado é bom, porque dá para ir percebendo a evoluçao masi rápida e claramente. Por outro é extremamente limitado. Mas gostei! E recomendo, pelo menos que experimentem. De qualquer forma, em Londres como em boa parte do mundo, 90% do yôga é Iyengar, Ashtanga “Vinyasa”. Ou uma adaptaçao e mistura desses. Ou Bikram. Ou seja, tende a ser muito repetitivo, muito focado no fisico, e encarado como fitness. Para mim não chega. Mas é bom conhecer... Estou plenamente convencido que o SwáSthya em Londres vai ter muito sucesso. A nível de pratica não tem comparaçao.

Delhi espiritual

Em Delhi só fui visitar uma escola. Fui visitar o Aurobindo Ashram, em south Delhi. Ou seja, o “Delhi branch”, pois o original é perto de Bombay, onde existe quase uma “cidade Aurobindo” chamada Aurobindoville. E existem outras “branch”. Este de Delhi também é enorme. Gigante! Não é uma escola de yôga. É um complexo urbanistico gigante, onde também se pode ir praticar ou estudar yoga. Mais própriamente o yôga ensinado pelo Aurobindo e a “mae” (a sua esposa), e pelos seus díscipulos. E que yôga é esse? É o chamado yôga integral. Integral no sentido do yôga que está em tudo, presente em todo lado, o tempo todo. E sobretudo nos actos mais cotidianos, rotineiros e politicos da Vida! Um dos lemas de Aurobindo e da “mae” era de que “contorçao não é yôga”. Por isso nem se praticava Hatha Yôga tradicional, com os tipicos ásanas. O que se fazia era principalmente tarefas sociais e educacionais, geralmente em grupo, principalmente dirigidas a crianças, o futuro da humanidade. Por isso, a parte menos importante do ashram sao as salas de pratica, essencialmente dedicadas a sat sangas e meditaçao, sendo as poucas (e suaves) classes de Hatha Yôga consideradas uma “concessao a pressoes exteriores”, ou seja, aos estrangeiros que vao visitar e residir no ashram. E esses estrangeiros sao importantes pois me parte sao eles que financiam tudo aquilo. Aliás, em parte sao estrangeiros que gerem também, sobretudo francofonos. O principal é a mega escola que o complexo contém, com jardins, hortas e instalaçoes desportivas incluidas (um luxo no meio de Delhi), e que dá educaçao a centenas (ou milhares, nem sei) de miudos indianos.

Aurobindo, que viveu parte da juventude na Europa, mais própriamente na França, ainda foi responsavel por introduzir o conceito ocidental de evoluçao no yôga moderno, acreditando que a Humanidade está a evoluir em direcçao a auto-consciencia total, uma iluminaçao global. E o Yoga é um meio e um fim nesse processo. O Aurobindo não foi apenas um Jñana Yogin, não foi apenas um lider espiritual, foi também um lider politico, que descobriu o yoga na prisao, quando participou de motins nacionalistas e independentistas nos quais o Gandhi também estev envolvido. Embora seja uma escola algo ocidentalizada, ela foi extremamente importante na Índia, e no yoga mundial, e em Delhi o Aurobindo até dá nome a uma das maiores avenidas da cidade, precisamente aquela onde está instalado o ashram.

Outro aspecto importante foi o protagonismo que “a mae” alcançou. Na realidade era a esposa, francesa, que era a máquina por detrás de tudo o que aconteceu, o Aurobindo quase nem saiu do quarto durante anos, onde se auto enclasurou a meditar e escrever, só saindo para dar o darshan (ser comtemplado), de vez me quando. O facto da esposa ter tanto protagonismo, assim como o facto de ser um yoga integral, que se descobre e revela em todas as coisas comuns e cotidianas fez com que este yoga fosse desde sempre assumidamente tantrico, e isso a certa altura era rompedor de preconceitos...

Quem quiser pode procurar mais nos seus sites, é interessante.

Varanasi espiritual

De Varanasi não tinha nenhuma referencia sobre escolas de yôga. Assim que recorri ao LP. Não é uma grande referencia em termos de yôga, mas é melhor que nada. Apontando a sorte poderia calhar entrar num daqueles centros onde esperam que turistas desavisadAs estejam "open minded" para clases e cursos de yoga "intimo", sexual, e sabe-se la mais o que! A verdade e que aqui na India ainda nao consigo discernir a spessoas e os locais pelo aspecto. Mesmo em casa e dificil, quanto mais aqui. Escolhi a sugestao da “Yoga trainning center” porque o sitio era bastante central e acessivel. Como vim entretanto a descobrir, a escola é dirigida por um professor e sua esposa, que também dao as aulas. Ele (não lembro o nome) que deve ter uns 35 a 40 anos, é encorpado (para um indiano), tem um bom ásana e ri muito, deixando frequentemente a mostra os dois dentres podres e pretos que tem mesmo a frente. Pelo que percebi é relativamente conhecido não só na Índia mas também pela participaçao em eventos internacionais de yôga. Não percebi quem é, ou foi, ou se teve, o seu mestre. Ela (não lembro o nome) deve ter uns 25 a 30 anos, pequena, simpática e boa de ásana também. A escola é essencialmente de Hatha Yoga, dando aulas de varios graus e estilos, e também formaçao a professores. Agora, se me estivessema contar isto eu já estaria a imaginar uma escola toda tradicional, provavelmente grandinha, com salas de pratica equipadas, enfim, uma certa sofisticaçao e tradicionalismo... Nada mais longe da verdade. Na realidade é só um terceiro piso minusculo e imundo de um prédio no meio de uma Varanasi ainda mais suja e congestionada. Teias de aranha por todo lado, pó também claro, de vez em quando vê-se um amacaco, ou um lagarto, ou um rato a passar pelas janelas, a maioria sem...janelas. Besuntar-se com repelente para mosquitos convém. A sala principal, de uns 25 a 30 metros quadrados, tem um “colchao” daqueles de pano redobrado no chao. E não se pense que ali se usam aspiradores. Directamente conectada a essa esta outra sala mais pequena, com de metade do tamanho e com um chao vermelho de uma material que aparente um dia ter sido alguma especie de tatami. Isso é a “escola”. Do lado de fora da sala, nos corredores de acesso ao ar livre deixam-se os sapatos, acessa-se o cubiculo onde se fazem as necessidades (sem lavatorio) e tem-se acesso ao quarto e cozinha da casa dos profs. Isto pode parecer tudo meio ridiculo, e pronuncio de que ali nada de bom pode haver. Mas estamos a falar de Índia, de Varanasi, onde é tudo assim, e as ruas estao ainda mais sujas e degradadas, e cheiram a merda. Por isso está dentro do contexto. Aliás, na Índia nem é o yôga-técnica que procuro, porque isso eu sei que no ocidente há mais e melhor. O que procuro é esse contexto. Quero ver a cultura onde o yoga se desenvolveu, ver o ambiente, os alunos, a forma como os professores de comportam, etc.. Se puder aprender algo de técnica melhor.

Esta escola (como a maioria) é especialmente orientada para ocidentias. Ainda mais sendo recomendada pelo LP! Quando cheguei para informaçoes estavam dois formandos a treinar uma sessao de Reiki! Sim, ali também se dao sessoes e formaçao de Reiki, que aliás etás um pouco por todo lado, sei lá proquê!? Isso sim, assutador... Um desses formandos era um jovem indiano com bom aspecto, e foi o unico aluno indiano que vi. O outro era um jovem austriaco, com aspecto meio hippiezado. Também vi uma terceira formanda, uma jovem venezuelana, que estava sempre muito compenetrada nas praticas. Passavam lá boa parte dos dias, a fazer todas as praticas. Em algum tempo obteriam o diploma de participaçao no “yoga teachers trainning center” e já poderiam chegar a Europa de diploma indiano na mao!

Eu fui primeiro a uma pratica da tarde chamada de "Hatha yoga tradicional", indicada para iniciantes. Estavamos 8. Começou logo com ásanas, feitos numa ordem que me pareceu não obedecer a nenhum critério especial. Mas foi forte, e gostei. Fizemos também alguns pranayamas. Fraquinhos. E depois veio a melhor parte, a meditaçao... Meditaçao do riso! !!! !?!?! Sim, meditaçao do riso, “instantanea”, “very good meditation”, “”let s fake it until you make it”. Eu nem estava a acreditar! Mas lá me ri, mas foi da cara do professor. Inacreditável. Eu sei que isto da “meditaçao do riso” não é novo, tem muitos adeptos, e ali pareceu-me uma coisa a lá OSHO. Mas em estava a acreditar. Foi uma paródia. Mas lá fiz, e ri, e foi divertido. Meditaçao mesmo nada, mas divertido foi. E gostei da aula, resovi voltar na madrugada seguinte para mais uma, supostamente de Ashtanga “Vinyasa” yoga. Voltei, estavamos metade dos do dia anterior, e mais uns 8 novos. Fui para a asalinha de trás, para o grupo do avançados. Os outros fizeram uma pratica do genero da do dia anterior, meditaçao do riso incluida. Nós ficamos com a esposa, que começou a dar-nos forte e feio nos ásanas, alguns repetidos. Não teve quase nada a ver com o conhecido “Ashtanga “Vinyasa” yoga”, mas forte e dinamico foi. Não foi nada de especial, mas até foi bom. Suei imenso, depois fizemos uns paranaymas , depois uma meditaçao esquisita... Ok, nem foi mau.

O melhor foi ver o ambiente. Uma coisa que tinha percebido logo na chegada a Índia, e no caso a esta escola, é que eles sao muito menos ortodoxos que os ocidentais. Eles não têm pudores nehnuns em adaptar, inventar, acrescentar, improvisar e brincar com o yôga. Básicamente fazem o que bem lhes apetece, assim que venda. E como sao indianos é yoga e pronto, ninguém discute. Depois aqueles formandos ocidentais que fizeram o “curso” de professores (básicamente consiste em ir as aulas) vao para a Austria ou Venezuela e ficam todos rigidos e hirtos, ultra ortodoxos, e dizem que tem de ser X e Y porque “eu vi na Índia”, “fiz curso na Índia”. Pois...

Nessa segunda prática conheci uma australiana de aspecto tailandes, e uns americamos e fomos tomar o pequeno almoço. Tinha percebido que a americana, no minimo, já tinha praticado. Em conversa logo nos confessamos, ambos professores de yoga lá na terrinha. Rsrsrsr Acabamos por passar o dia inteiro juntos (os 4) e percebi que ela até tem um percurso bastante comum, parecido com o meu, cheio de ilusoes e desilusoes, periodos de grande envolvimento, entrega e pratica com outros de maior distanciamento e reflexao, etc. Apesar de ser uma judia Nova iorquina temso muitíssimo em comum, e adorei estar a conversa com ela.

Entretanto cheguei a Rishikesh, “capital mundial do yôga”, cheia de ashrams, gurus, “babas”, e praticantes de todo o mundo. Vou ver e depois conto mais.

Estou em Rishikesh! Estou mesmo...
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Viajar, a sós ou com sócio?

Mais vale só que mal acompanhado, já diz o ditado. Mas mais vale bem acompanhado que só, digo eu. É bom partilhar. É essencial. Mas quando não encontramos ninguém que queira, ou possa, alinhar, o que devemos fazer? Eu sei o que faço: vou na mesma. Faço à mesma. Se puder viajar ou fazer com amigos, com um grupo, ou, ainda melhor, com companheira, prefiro. Mas senao não vou ficar parado, em terra, a ver navios.

Preciso de fazer, de viajar, de ver, de experimentar. Sou curioso, preciso de conhecer por mim mesmo, passar directamente pelas experiencias para aprender, e ás vezes até preciso de mais que uma vez. Assim que quando vi que o mais provavel seria vir sozinho assumi o facto e pronto, segui em frente.

Provavelmente amanha ou no dia seguinte vou para o Dayananda ashram, aqui em Rishikesh, e lá vou estabilizar, e lá vou encontrar gente conhecida. Mas estas primeiras duas semanas (que parecem mais) foi mesmo por mim mesmo. Mas quase nunca sozinho.

É curioso, olhando para trás, vejo que pouquissimas vezes viajei sozinho. Pelo menos mais que 2 ou 3 dias. E como sempre, desde que estou com a Joana aproveitei para não me preocupar com quase nada relativo a organizaçao das viagens, mesmo aquelas em que ia só eu! Eu não gosto dessas coisas, de papeladas, marcaçoes, horarios, pagamentos, etc. E também não gosto de pensar na viagem antes da viagem. E a Joana, como a maioria das mulheres, gosta de saber de tudo, estar precavida, assegurar-se, é mais pratica. Assim que durante uns anos não tratei de nada. “Quero ver um dia que não estejas cá eu”, ouvi várias vezes, tal como ouvia em casa com a minha mae, e outras muitas vezes depois. Mas eu sempre soube que isso era oportunismo, perguiça, que quando fosse preciso eu safava-me. E estou-me a safar, como sempre que foi preciso.

Dizem que quando viajamos com uma namorada ou esposa há grandes possibilidades de stressar e até acabar com o relacionamento. Porque a dois o normal é ficar-se muito juntos,cada um a apoiar-se no mundo conhecido que resta, invadindo constantemente o espaço alheio para além do que seria desejavel. E depois, se não há boa sintonia, ou se não está claro quem manda, e quase nunca existe boa sintonia nem está claro quem manda, as coisas podem ser complicadas. Muito complicadas. Até porque se entre o casal há “assuntos” pendentes eles continuam pendentes na viagem, não desaparecem, antes pelo contrario. Mesmo entre melhores amigos de toda a vida isso tende a ocorrer. Pode-se chegar ao fim (ou a meio!) da viagem e já estar com os cabelos em pé. E pode ser que tudo acabe ali mesmo. O que não faltam é casos desses por aí. A mim nunca me passou chegar ao ponto limite, mas já vi outros a chegar, e já saboreei um pouco a minha própria dose. E a Índia é o sitio perfeito para por tudo e todos a prova, porque isto não é a Europa, onde há supermercados em todo lado (eu ainda não vi nenhum aqui), onde tudo é mais ou menos limpo, seguro, previsivel...

Por outro lado, há quem se dê realmente bem, e que viajam a dois, pelo menos aparentemente, bem. Muito bem. Isso é maravilhoso. Estando sozinhos olhamos e dá inveja. Como seria tao bom ter ali alguém que gostamos muito e confiamos pelnamente para partilhar tudo.

Por outro lado viajar sozinho tem as suas vantagens. É que estamos muito mais abertos a conhecer outras pessoas. E aqui na Índia há muita gente a viajar sozinha, não só para estar ou estudar na Índia, mas também para conhecer outras culturas e sobretudo outras pessoas, de todo o mundo! É muito fácil conhecer gente em viagem! Conheci uma francesa no aeroporto em Londres que me fez companhia naquela fatigante espera. Por acaso encontreia outra vez em Delhi. No aviao conheci um indiano que vive em Portugal, em Alcantra! Em Delhi conheci brevemente uns 5 ou 6 viajantes, sobretudo no restaurante, mas acabei pr estar a maioria dos 4 dias com o meu motorista que era um gajo porreirissimo, por sorte. Só me ria com a coisas que o gajo contava. Mal me largou e passei para o comboio passei a conhecer uma média de 2 ou 3 pessoas por dia. Uns para pouco mais que um almoço ou passeio. Outros acabam por ser companheiros de um dia inteiro, ou até de mais de um. Já conheci espanhois (por todo lado), australianos, franceses, coreanos, americanos, noruegueses, suecos, holandeses, e gente sei lá mais de onde. A maioria gente entre os 20 e os 35 anos. Geralmente basta puxar conversa e já está. Além da companhia, contam-se histórias, dao-se dicas e sugestoes para a viagem. Partilha-se um pouco da Vida e da viagem de cada um. E isso é tao enriquecedor. Nesta viagem de 20 horas para Rishikesh conheci uma holandesa de 32, advogada, que está a viajar há 4 meses, esteve 2 meses a trabalhar nuns orfanatos aqui em Rishikesh, foi a Varanasi conhecer e volta para cá dizer adeus aos miudos antes de ir para a Holanda outra vez. Estivemos na conversa horas no comboio, dividimos o taxi desde Hardiwar, ficamos na mesma hospedagem e fez-me de guia pela parte que interessa de Rishikesh, que assim conheci logo bem no primeiro dia. Entretanto cada um vai ao seus afazeres. Nem sei se a volto a ver apesar de estarmos na mesma hospedagem, e nem me interessa, porque foi porreirissima mas é assim mesmo, vem e vai-se. Como já vieram e foram rápidamente bastantes pessoas em poucos dias. Algumas pessoas até agostariamos de conhecer melhor, porque temos coisas em comum, porque conectamos bem, gostamos. Mas talvez eu estivesse em direcçao a Varanasi e ele ou ela em direcçao a Bombay. Mesmo que volte ver esta “Nicole” (na maioria dos casos nunca se chega a decorar os nomes das outras pessoas) será para um “adeus, boa viagem, foi um prazer conhecer-te”. E sigo para bingo, que há mais que fazer, coisas para ver, outras pessoas para conhecer. Eu gosto de saber como vivem e viajam os outros por isso meto logo conversa e a garnde maioria está desejosa do mesmo. Mas não é um conhecer mesmo. Há pessoas com as quais podemos conectar perfeitamente de forma instantanea, e até podem surgir momentos de grande intimidade (intimidade no sentido de entendimento e cumplicidade) num breve momento. Mas, apesar de a maioria das pessoas em viagem estar bastante aberta e receptiva, a verdade é que não é a mesma coisa que ter um companheiro conhecido e constante, estável, com quem nem é preciso sequer olhar para saber o que o outro vai dizer, ou querer...

Enfim, varios lados da mesma moeda. Eu estou a gostar muito. Mas também me está a apetecer parar, estar com gente conhecida, ou conhecer gente mais tempo, conhecer melhor um lugar, fazer algo com principio, meio e fim.

Tenho esta ideia na cabeça de viajar por meses, de bicicleta ou de mota, talvez através da Índia, ou de outro país enorme, acompanhado ...
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Varanasi

Uma das cidades santas da Índia. Pensa-se que uma das mais antigas. Uma cidade voltada maioritáriamente para o culto a Shiva, o dito Shivaismo.

Varanasi é mais pequena (que Delhi), ou pelo menos a parte mais interessante fica mais concentrada. Por isso é uma cidade ideal para quem quer andar a pé, como eu e a maioria dos viajantes. A maioia do que mais interessa está junto ao rio, O Rio, o Ganges. Ou “a Ganges”, porque o rio é mulher, é criaçao, recriaçao, renascimento, reflorescimento de Vida. A mae Ganges. Por isso tudo tende a confluir para o rio, e o mais tipico, famoso e bonito sao os Gaths, as escadarias que dao acesso ao rio. Lá se processam a maioria dos rituais, e também dos passeios turisticos. Por cima dos gaths está a cidade. Mil um templos, a maioria para Shiva, desde muito pequenos, (tipo: meio metro cubico!) a medianamente grandes. Os Hindus não parecem ser dados a grandes construçoes. Para quê se o maior templo de todos está ali a frente de todos, é o próprio rio! E para fazer os pujas a Shiva basta uma qualquer pedra apontada para cima (simbolo fálico). Se quiser acrescenta-se um animal em frente, como simbolo de Shiva Pashpaputi, o rei dos animais... De todos os aspectos da multifacetada espiritualidade hindu, a que mais me fascina é o sem dúvida o Shivaismo, que na Índia pode assumir mil e uma formas e manisfestaçoes, mas que parece ter certas origens ainda mais ou menos obvias no animismo, no shamanismo, nos cultos da terra, da fertilidade, da guerra, da Natureza, dos ciclos da Vida...

Embora nós ocidentais tomemos o Yôga de uma forma técnica, practica, filosófica, “limpa”, aqui o yôga ganha um certo contexto cultural, e isso é bonito. Shiva também o rei dos yôgis, o simbolo do yôgi perfeito...

Como parece ser tudo na Índia, aqui em Varanasi percebem-se espectacularmente bem algumas contradiçoes absurdas da Vida, e a forma como os indianos parecem viver com isso é o que de mais interessante há para comtemplar.

O rio Ganges, o simbolo maior de criaçao, regeneraçao, renascimento, etc, venerado por milhoes de hindus como se fosse a sua própria mae, é, em termos “ciêntificos”, um rio morto, ou pelo menos envenenado, extremamente poluido. Aqui em Varanasi, já relativamente perto (uns mil Km) do delta onde conflui para o mar, o rio já esta tao poluido que a maioria do ocidentais nao arrisca nem molhar as maos! Diz-se que está 500 vezes masi poluído do que o máximo recomendado para tomar banho! Mas os indianos tomam banho, lavam a roupa, etc. E não é só a sua rotina diária que levam a cabo. É ritual. Vir tomar um banho ao Ganges é considerado purificador. O rio é sagrado. Mesmo que já se esteja morto! Dao um banho ao cadaver, depois quiemam-no, depois lançam os restos no rio. Tudo á vista de toda a gente. Acreditam muitos hindus que isso é um passo positivo para o seu Karma, para reencarnar num ponto mais alto da evoluçao, ou seja, mais perto da iluminaçao que os libertará, em ultima instancia, da própria Vida, esta vida de sofrimentos, condicionalismos, limitaçaoes. Esperam um dia não mais renecarnar, ser Deus. Daqui a muitooooooo teemmmpppooo. Acredito no entanto, que maioria deseja simplesmente reencarnar numa posiçao economico social mais vantajosa...

Se voltar a Índia, e isso parece-me bastante provavel, voltarei sem dúvidas a Varanasi. Gostei mesmo. E nem os pretensiosos ocidentais que se creem mais hindus (e porcos) que os indianos, nem o cheiro a escape da ruas hipercongestionadas por demasiadas motoretas sem catalisador, nem o cheiro a merda por todo lado proveniente de todo tipo de animais (humanos incluidos), nem os pedintes, massagistas, barbeiros, vendedores de flores, passeios de barco, drogas, conductores de rickshaw, estadias em guesthouses, lugares com melhores viistas e visitas a “verdadeiras fabricas de seda milenares”, e mais mil uma porcarias que continuamente nos querem pedir ou impingir estragam a pintura.
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Agra, Taj Mahal


Algumas coisas da Vida sao perfeitas. O Tal Mahal é perfeito!

Algumas coisas que sao perfeitas chamamos-lhe arte. Se sao perfeitas não precisam de explicaçoes, não precisamos que nos definam arte... O Tal Mahal é arte, simplesmente porque não sei que outra classificaçao poderia ter.

Estive quase para não vir a Agra. Ir a uma cidade pouco mais que horrivel só para ver um tumulo?! Ainda por cima muçulmano! Mesmo sendo o tumulo mais conhecido do mundo... Mas Agra estava no caminho para Varanasi, e por isso não havia nenhum motivo razoavel para não vir tirar a inevitavel foto.

Não vale a pena dizer muito mais. Fotos há mil e uma na internet. A história acerca do Taj Mahal também. Mas posso dizer que esta obra é daquelas tao perfeitas que saber sobre ela, ou vê-la nas fotografias ou na TV, não pode nunca ser a mesma coisa que estar lá e ser esmagado por tanta beleza e perfeiçao. E não é só o tamanho, ou o complexo todo, ou os jardins. É a perfeiçao no detalhe. No detalhe que só se vê a 1 metro, e em alguns caso saté só a 1 cm de distância...

O Tal Mahal é só mais uma evidência de que o periodo muçulmano da Índia foi também o seu periodo de mais grande apogeu. E a Índia já teve vários! E faz-me pensar como uma civilizaçao que prodoziu tamanha beleza e perfeiçao pode agora estar a reduzir-se a um fanatismo religioso abjecto...
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Delhi, real India

Ponho-me a pensar como seria Delhi, a Índia, há 40 , 30, 20 anos... Quase sem automoveis, sem telemóvéis, sem internet. Quando os voos ainda não eram tao acessivéis. Quando os turistas e indianos ainda eram estranhos com curiosidade uns dos outros, à descoberta uns dos outros. Tento imaginar essa Delhi, um pouco menos ruídosa. Suja mas não tao poluída. Cheia e caótica, mas não tao frenética. Nessa altura a Índia deveria ser realmente uma aventura muito especial, tanto que cativou hippies, aventureiros, estudantes e viajantes até hoje.

Hoje, a índia continua a ser especial, com o muito antigo e o absolutamente moderno a conviverem em tao perfeita fusao que não se consegue dizer onde começa um e acaba o outro. Com esta miscegenaçao total de culturas. Com um hinduísmo tao vasto e diversificado em continua regeneraçao. Continua a ser outro mundo para quem sai da acéptica, organizada e segura Europa. Mas concerteza que até há uns 15 ou 20 anos era mais “outro mundo”, mais inacessivel, menos, globalizado na monocultura universal, mais Índia. Não sei..

A maioria dos turistas fica uma ou duas noites em Delhi. Poucos ficam mais. Porque Delhi é ruidosa, suja, poluída, não especialmente bonita, nem em termos paisagisticos naturais nem em termos monumentais. É um ponto de chegada a Índia, e de partida para outras Índias. Vao como eu para Rishikesh para fins especificos, filosóficos, espirituais, esótéricos, culturais e sem lá mais o quê. Ou atrás de um guru, para alguns ashrams noutra parte qualquer do país. Ou vao para sitios mais new age, tipo Goa, Shimla, Puksha, Dargeelling e afins, seja praia, montanha ou deserto. Sitios onde predominam os turistas, as festas, a droga, o engate. E isso não tem mal nenhum, só que se fosse isso que procurasse tambem poderia fazer em casa, ou pelo menos mais perto.

Eu não venho á procura de monumentos, embora não recuse vê-los. Os mais imponentes sao quase todos do periodo de dominio mongol, portanto de cultura predominantemente islamica. Pelo menos nesta area mais ao norte onde tenho andado até agora. Os hindus até têm mais templos um pouco por todo lado mas chegam a ser do tamanho de uma televisao! Mas o que eu quero ver antes de ir para Rishikesh, uma cidade relativamente pequena, considerada cidade santa, cheia de ashrams de yôga e afins, e totalmente invadida por turistas espirituais, o que quero ver antes, dizia, é a real Índia. As gentes, as cidades, o dia-a-dia banal digamos assim. E para isso posso bem ficar em Delhi mais uns dias. Aliás, se quiser voltar, e parece-me que vou querer, esta será sempre a mais provavel porta de entrada, por isso só me convém conhecer quanto mais melhor. Alarguei a minha estadia a 4 noites. Deu-me tempo para ambientar, relaxar e começar a conhecer alguma coisa mais que o centro onde todos os turistas chegam e ficam, em geral o minimo de tempo possivel.

Uma das coisas que fiz foi voltar a Old Delhi. Delhi é o conjunto de várias Delhis construidas pelos diferentes impérios que a dominaram. O actual centro é do periodo inglês, que foi construido para aí colocar a capital da colónia (tirando-a de Calcutá). A parte “velha Delhi” corresponde grosso modo ao periodo de maior apogeu e crescimento da cidade, o de dominio mongol. Old Delhi, é uma enorme zona de ruas estreitas com prédios de mais ou menos 3 ou 4 andares, onde passam alguns carros e muitas motas, mas onde sobretudo há muito transito de pessoas a pé atras dos seus afazeres, essencialmente de comércio. Sao milhares e milhares de pequenas lojas e oficinas a comprar, vender e consertar quase tudo o que se possa imaginar. A zona é algo labirintica. É tipo um bazar gigante. Passadas duas horas mais ou menos a deriva, sozinho, tinha-me perdido totalmente, e ido parar a um lugar muito longinquo do original, onde o boy do rickshaw me esperava de volta. É uma zona tipica, que , exceptuando os carros e motas, não deve ter mudado muito nas ultimas centenas de anos. Milhares (ou milhoes?!) de pessoas vivem e trabalham ali, naqueles meandros sujos poeirentos, poluidos, muitas vezes em casas-loja que não têm mais que 3 ou 4 metros quadrados! Não o creio que exista saneamento básico, pelo menos a funcionar decentemente. E a agua não é potavel, pelo menos para os ocidentais. O cheiro nas ruas é em geral mau. Mistura cheiro a fritos, bosta de vaca, de humanos e de sabe-se lá mais que bicharada, especiarias, oficinas de mecanicos e sobretudo muito tubo de escape. Tudo junto num pó intoxicante. O nariz e garganta sentem isso como uma secura de mau sabor que ao limpar é negra. Dito assim oparece terrivel, e é. Só não é pior porque os indianos sao pobres, por isso aproveitam quase absolutamente tudo! O que eles não aproveitam as vacas, os caes, os macacos e os ratos comem! Reciclagem natural. Concerteza fazem menos lixo que nós coidentais, que consumimos muito mais e onde tudo vem num saquinho de plástico. Enfim...

Old Delhi acabou por ser a parte de Delhi que mais gostei. Porque ali é onde mais vejo a “real and incredible Índia”: caótica, frenética, absolutamente cheia de gente, suja, colorida, com uma grande variedade e misegenaçao cultural...
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sábado, 7 de fevereiro de 2009

Ajuda a navegacao..

Para os poucos, mas dignissimos, seguidores desta viagem...

Tenho estado pouco tempo na internet. Mas escrevo sempre o meu diario de viagem. Asssim, que vou publicar menos vezes, mas talvez aos magotes!

Podem ler tudo fazendo scroll na pagina, ou simplesmente aproveitar estes links para clicar e ler na ordem cronologica. Depois basta carregar em "pagina inicial" (ou "home"), no fundo do articulo-pagina, e voltar a pagina inicial.

Beijos e abracos. Tenho saudades.

Londres: caos e neve!

Estou n aIndia. Chegada a Delhi. Primeiras impressoes.

India, viver no limiar da sobrevivencia

(Ignorem essa coisa que aparece sempre no fim de todos os textos a dizer "Leia o artigo completo CLIC". Essa funcionalidade nao esta a funcionar...) Leia o artigo completo CLIC

No limiar da sobrevivencia: experiência sentida

Recentemente um amigo londinense revelou-me um dado estatístico que dá que pensar: para que todos os habitantes da Terra actual vivessem segundo padroes de consumo dos estado-unideneses seriam necessários cerca de 3 planetas!

É um daqueles dados impressionantes que faz pensar algum tempo. Não muito. Não muito porque é um dado teórico, que não sentimos, não apalpamos, nao vivemos. Não a maioria de nós, no nosso mundo ocidental do norte, chamado o 1º mundo, que mesmo para quem não é rico ainda assim tem o básico. Mas o básico segundo que padrao?!

No nosso mundo rico, do qual nos queixamos constantemente, este tipo de dados é-nos trazido por entre torrentes de informaçao acerca das mil e uma desgraças do mundo, desgraças as quais nem registramos, porque sao muitas, constantes, rotineiras, e sobretudo longínquas. Sim, há sempre noticias de muita gente a morrer despedaçada por guerras, ou decomposta por doenças, ou sugada pela fome. Mas sao noticias, imagens sem cheiro, numeros sem tacto. Quantos de nós tem contacto directo com isso? Não sabemos, porque não sentimos. Não sentimos porque não vemos. Não sentimos porque estamos demasiado longe, tal como muitos outros deixam de sentir porque convivem, demasiado perto.

Segundo o último senso, de 2001, Delhi tem mais de 12 milhoes de Habitantes. E está em crescimento. Tal como se passou em Portugal entre os anos 60 e 90, e tal como na maioria do mundo actual, há imensa gente a imigrar dos campos para as cidades, principalmente para as grandes cidades, principalmente para as capitais. Vêm a fugir da pobreza (ou miséria) do trabalho agricola dos campos e aldeias. Ou da falta de prespecticas e oportunidades de realizaçao individual que esses lugares apresentam, e que o cinema e televisao sao tao habeis em propagandear, fazendo as pessoas sonhar , e o sonho faz as pessoas andarem...

Mas em Portugal essas pessoas alimentam bairros sociais, mais ou menos pobres, mais ou menos guetos. Alguns têm problemas com a droga (os bairros ricos também), as escolas onde vao sao ditas problemáticas, aparecem psicologos pagos pelo Estado para tentar solucionar alguma coisa, etc., mas não costuma haver muita fome. O que há é discriminaçao social devido a poderes de compra e nivéis culturais distintos. É dessa forma que definimos as castas na Europa. E sim, isso é tremendo, e até faz com que gente se prostitua e roube só para poder comprar uma roupa mais na moda, ou um carro mais impressioannate. E todos nos sentimos muito incomodados se não temos pelo menos um quarto só para nós. Queremos muito espaço, muita comida, muitas coisas... Mas vejamos o mundo.

No Brasil essas mesmas pessoas alimentam favelas, o crime organizado, muitos trabalhos muito mal pagos. É pior.

Em Delhi essas pessoas alimentam directamente as ruas da cidade. Habitam as ruas. Os cantinhos todos da maioria das ruas, especialmente as principais. E quando digo as ruas refiro-me aos passeios e estradas! Na melhor das hipoteses a um qualquer mini beco imundo. Há centenas de milhares (centenas de milhares) de pessoas a dormir no passeio em todo lado, a qualquer hora, inconscientes de toda a poluiçao de todos os tipos, que aqui é o normal. Todos os sitios têm gente na rua. Muita dessa gente não tem casa, vive ali mesmo. Come, dorme, compra e vende, trabalha, caga e tem filhos ali mesmo, no passeio, ou até na própria estrada. Alguns dormem tao despojados no cimento poeirento que parecem mesmo mortos. Alguns se calhar estao!

Há sempre muita gente, em todo lado, a fazer de tudo. Qualquer trabalhito que em Portugal é feito por pouquissímas pessoas, ou ate por uma máquina, aqui é feito por muita gente, gente que recebe por isso quase nada. E muita gente nem se percebe o que raios fazem. Creio que muitos não fazem muito mais que deambular! O trabalho, a Vida aqui tem outro valor. MUITO mais baixo. Quase nulo. E só assim se pode compreender que um gajo europeu de classe média e sem muito dinheiro possa vir cá e ter um taxi com motorista-guia à disposiçao 24 horas por dia. Custa menos que ir do aeroporto ao Marquês de Pombal... Esse motorista trabalha 7 dias por semana e se for preciso atravessa o país a passear o turista, seguindo os caprichos deste. Tem de alimentar a mulher e 4 filhos, e sente-se muito feliz porque não é um dos muitos sem casa, aos quais tenho estado a referir-me.

Ao ver isto em directo, in loco, ao tocar, cheirar e sentir, de repente os numeros ganham realidade, peso, emoçao. Só nao é mais porque é tao incrivel que nem dá para entender bem. Só não é mais porque temos capas emocionais protectoras que nos bloqueiam a empatia, para não sufocarmos! Ainda estou na fase em que tudo isto me parece algo surreal, diferente, até interessante, incrivel.

Se um Europeu mal (ou melhor, bem) acostumado como eu tivesse de repente que viver essa realidade por algum tempo, digamos que uns meses, acredito que o que aconteceria seria mais ou menos isto: 40% de possibilidades de morrer de alguma doença rápidamente. 40% de hipoteses de adaptaçao. Afinal o ser humano é incrivel na sua capacidade de adaptaçao e se sobrevivesse aos primeiros meses muito possivelmente até ficaria mais forte. “O que não mata engorda”. Ou ao menos talvez nos quiexassemos menos. Agora, a questao é? Será que isto vale realmente a pena que nos habituemos? 20% de possibilidades de suicídio! Porque ver e vaguear por perto disto não nos permite compreender a sério, nem muito menos suportar aquilo que é viver assim. Se é que isto é viver. Não, não é, isto é sobreviver. No limiar da sobrevivencia.

Agora sim, isto dá que pensar! Porque dá para tocar e sentir.
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Estou na Índia. Chegada e Delhi.

Quando cheguei a Sao Paulo, no Brasil, ia assustado. Ia sozinho, tinha passado o mês anterior a sofrer uma pequena lavagem cerebral de muitos conbhecidos que me “bondosamente” me avisavam de todo tipo de perigos que o Brasil oferecia, do tipo “cortam-te os dedos para te roubar os anéis”. A minha maneira, cheio de descontraçao e estupidez natural, pouco ou nada preparei. É perguiça e desleixo mesmo. E optimismo e excesso de confiança. Em geral acho que tudo vaio correr pelo melhor, e o melhor é ir e logo se vê, tudo se resolve... E resolve mesmo, mas isso tem um preço. E geralmente é bastante fácil de contabilizar, porque é monetário. Quando cheguei a Sao Paulo era Domingo pelo que estava quase tudo fechado. Pelo menos a escola de yôga onde eu ia fazer o estágio profissional estava fechada, assim que não havia possibilidades de orientar-me por lá. Infelizmente tinha-me esquecido da direcçao da casa onde ia ficar. E do numero de telefone! Assim que vi-me atirado para o meio da rua naquela que para mim era, por preconceito, uma cidade infernal! Quando me apercebi da situaçao fiquei com MUITO medo. A minha reacçao ao panico foi simples: olhei em volta, procurei um Hotel com bom aspecto e entrei nele. Felizmente estava num dos melhores bairros da cidade (o que, pelo aspecto, eu não diria) e mesmo em frente a um dos melhores hotéis, um de 5* que eu já nem me lembro o nome. Entrei e pedi um quarto, tomei banho e imediatamente senti-me bem. Baixei ao bar, pedi acesso a internet e logo encontrei on line a dona da casa onde ia ficar. Afinal a casa era na mesma rua do Hotel, a um quarteirao de distância! Menos de dois meses depois tinha percorrido sozinho e a pé muitos Km de ruas más e muito más da cidade, sem grandes receios e sem que se passasse nada.

Ontem de madrugada cheguei a Índia.

Sobre a Índia nunca ouvi grandes histórias de violência. No entanto, sobre Delhi, quase só ouvi coisas do tipo: “é asqueroso”; “é horrivel”; “fiquei um dia e fui logo embora”; “cuidado com os pedintes e pequenos furtos”. Diga-se que a ideia de ficar sem $ e documentos (passaporte) na índia é assustador. A isto juntam-se os mil e um avisos sobre os cuidados a ter com a água, comida, mosquitos e mais um sem fim de doenças tropicais, sazonais, e outras tipicas do mundo mais imundo. MUITO mais imundo. Depois de cerca de 36h acordado, 10h num aeroporto, e uma viagem de 8 horas de aviao, qualquer um sonha com um bom quarto, limpo e seguro, uma cama, uma refeiçao e um bom descanso. Isso pode até tornar-se uma obcessao que atalha quaisquer outros pensamentos e a própria capacidade de pensar racionalmente. Quando cheguei meti-me num taxi em direcçao ao centro. Um velho Ambassador que começou a serpentear pelas estradas de modo frenético comunicando-se alegremente com a buzina a cada 10 segundos com os outros muitos milhares de conductores maniacos que abundam actualmente na Índia. Só me lembrava que o Hotel onde supostamente eu tinha uma reserva era em Connaught Place, que eu imaginei ser o centro, e efectivamente é. Do Hotel nem me lembrava o nome, pelo que disse ao taxista , o mais confiante que consegui, para me levar ao centro, na esperança que ele não topasse que eu não fazia a minima ideia de onde estava e para onde ia. Perguntou-me logo se era a primeira vez na Índia? 2ª disse eu sem hesitaçoes. Parece que deu mais ou menos certo, deixou-me no sitio certo. Não sem antes tentar levar-me várias vezes a aceitar sugestoes e contactos de hoteis para ir. Até me passou para a mao o telefone ligado para eu falar com alguém com quem ele estava em contacto, o que eu recusei com um misto de (pseudo) desinteresse e desprezo. Estava básicamente armado em bom. A esta altura já estava impressionado com o aspecto da cidade. Mesmo com pré-aviso impressiona. Infelizmente não estudei minimamente “O livro” do viajante na Índia (o Lonely planet) que, depois li, avisa para ter cuidado com os muitos agentes de turismo que se anunciam oficiais (“work for goverment, no comissions”), mas que não sao, e que estao prontos para nos “dar” toda a ajuda que precisemos. Depois de 5 segundos (!!!) de sair do taxi já tinha um fulano de aspecto duvidoso a querer levar-me para um “Official Turist Office, right here, come come”. Como 5 segundos foi o que demorei a entender que afinal aquilo que no mapa parecia uma pequena e tipica praça cental de uma cidade era na realidade um gigantesco, caótico, sujo, barulhento, cheio de transito e aparentemente labirintico conjunto de avenidas que realmente fazem uma volta parecida a um circulo, circulo que no mapa parece uma praça central. É central, mas não é bem uma praçazita. Como percebi instantaneamente que jamais iria encontrar um Hotel que eu nem me lembrava o nome, deixei-me rapidamente ceder ao convite deste senhor. Nesta agência de turismo “oficial” (na realidade, oficial mesmo, e recomendavel, só existe uma agência, a que recomenda o LP) fui bem rebecido por uma elegante jovem Sikh que me tranquilizou rapidamente e em 5 minutos me preparou um percurso turistico completo para os 10 dias que eu tenho antes de Rishikesh.

O meu plano era simples: Delhi de passagem, Agra por obrigaçao, para tirar a inevitável foto do Taj Mahal, e só porque está a meio caminho para a mitica Varanasi (antiga Benares), onde ficaria mais uns dias apreciar os Ghats e tudo o mais que houvesse para ver nessa cidade onde domina o culto a Shiva nas margens do Ganges. Mas nao sei como, talvez devido à junçao de cansaço e medo, ou à simpatia e competência deste boy, 10 minutos depois tinha aceite comprar um plano turistico de gama média (ou seja, não ia ficar com os backpackers) passando 3 dias por Jaipur no RaJasthan com direito a passeio em elefante, pelo meio mais outra cidade que nao lembro do nome antes de Agra , depois Agra, só depois Varanasi, e entao comboio para norte directo até Hardiwar, já mesmo ao pé de Rishikesh. Vá lá ainda tive lucidez para recusar um mini safari atrás de Tigres num parque qualquer na zona de Agra! O plano incluia os Hotéis, taxis e rishikaws em todo lado á minha espera e disposiçao, e os bilhetes de comboio. Só teria de pagar extra a alimentaçao e as entradas nos monumentos. E as gorjeta que achasse devidas. Felizmente os meus cartoes Visa não funcionaram direito e só pode pagar parte do total no acto de compra. Isso permitiu-me voltar hoje e renegociar o tour, tirando todo o Jaipur, aumentando um dia aqui em Delhi, e diminuindo a conta a pagar. Ou seja, voltei ao plano original da minha cabeça, embora um pouco mais caro e menos auto-suficiente do que o imaginado. No entanto, verdade se diga, este plano mesmo assim tem um custo aceitável. Se o fizesse eu talvez o fizesse por menos uns 200 euros, mas com muito mais insegurança e sobretudo com muitas perdas de tempo na compra de bilhetes, marcaçoes de hoteis, achar hoteis decentes, etc. Assim vou a muitos mais sitios, muito mais rápido e muito mais seguro. Basta-me dizer ao meu motorista, o Raj, onde quero ir, ou simplesmente aceitar as suas indicaçoes, todas elas préviamente estudadas e que incluem lojas e restaurantes onde não tenho nenhum interesse em ir, mas que lhe dao comissoes a ele, ou pelo menos ao patrao dele.

O Raj, o meu motorista-guia desigando tem 38 anos, é hindu, originário de uma aldeia qualquer no Rajasthan, casado e com 4 filhos. É analfabeto, mas fala, além de Hindi e Rajasthaní, ingês e até umas palavras de japonês. Aprendeu com os turistas. O proximo passo dele, se continuar a acumular bom karma, é comprar o próprio Taxi, que por aqui costumam ser Suzukis, Toyotas ou Tatas, a maioria minusculos e quadradinhos, aqueles utilitários de gama mais baixa que também temos na Europa. Delhi está cheia deste tipo de carros a circular por todo lado, parecendo seguir apenas uma regra básica de transito: não chocar! Mas chocam. O Raj faz rezas e adoraçao (pujas) a Durga em busca de Poder. Secundáriamente também a Ganesh (boa sorte), e a Parvatí (prosperidade). Veja-se como a famosa “espiritualidade hindu” convive harmoniosamente com o mais puro materialismo. É gordinho e simpático. Hoje deu-me uma dica boa de restaurante aqui mesmo ao pé do Hotel Blessings, e sobre como obter bilhetes de comboio sem ser roubado por oportunistas (como os da agência para quem ele trabalha), na estaçao de comboios de Nova Delhi (por distinçao de Old Delhi), a mais importante, também aqui ao lado do meu Hotel. “Don t tell my boss, or will get fired!”. Ok. “Please don t say my name, please don t tell my boss.” Ok, ok. Fez-me logo as perguntas tipicas que qualquer indiano faz a um estrangeiro: Frist time in India? How long wiil you stay? Where do you go? How old are you? Are you married? Have children? Where is your wife? What is your profesion?. Isto sao as perguntas tipicas, quase oficiais, feitas não só para ser simpaticos e meter conversa, não só para saber o quanto podem sacar de nós. Essas perguntas, principalmente as relativas a familia e trabalho, sao as perguntas fundamentais da Vida para um indiano, e fazem-nas por genuina curiosidade. Aliás, sao em geral muito simpaticos, não só por necessidade, mas também por educaçao. É falta de educaçao não responder, e é de bom tom perguntar o mesmo ao inquiridor. Podem até perguntar quanto $ ganhamos, e acham sempre muito estranho sermos casados e não termos filhos.

Ontem, ainda no mesmo dia em que cheguei, depois de um curto sono e banho, o Raj levou-me a South Delhi a ver o “mini” Taj Mahal, anterior e inspirador do de Agra. É também um tumulo muçulmano. E se este é o mini tenho mesmo que ir ver o macro! Depois, ainda no Sul de Delhi fui ver outro monumento qualquer que nem sei bem o que era. Nas realidade ainda estava deslocado, cansado, algo receoso, a adaptar-me ao facto de que estou na Índia! ESTOU NA ÍNDIA!

Hoje de manha (5ª, dia 5) ia sair cedo para explorar a Old Delhi. Comi cuidadosamente o pequeno almoço. Ou seja, comi o pao das sandes de vegetal, e bebi agua mineral devidamente engarrafada ( é a única opçao se exceptuarmos a Coca Cola). 5 minutos depois senti um acesso de vómito! Um minuto depois senti outro. !!! Numa fracçao de segundos revi mentalmente todos os relatos que dizem ser muito comum uma intoxicaçao alimentar acontecer e provocar vomitos, diarreias severas e até desinterias de vários tipos. Coisa para passar uma semana de baixa atrelado a uma sanita! Ao terceiro acesso de vómito não hesitei, e provoquei o vómito sem mais demoras até ter a certeza de que tinha deitado fora absolutamente tudo o que tinha comido. Bebi 1 litro de agua mileral. Descansei um bocado na cama e umas horas depois estava aparentemente bem. Até agora. Deve ter sido só um susto. E que susto!

Old Delhi.

Hoje tinhamos ficado de ir a Old Delhi, a antiga e mais tardicional Delhi. A primeira paragem, a meu pedido, foi uma grande mesquita que ali há. Não sei os nomes, mas esta tudo na internet. Depois foi o Red Fort, que esta mesmo ao lado. Tudo isso faz parte da era muçulmana da Índia que foi a que deixou mais arquitectura em pé até aos nossos dias, mas para falar a verdade não me impressionou muito. Gostei mais de ter andado de bici-rikshaw pela primeira vez. Sim, com um transito absolutamente infernal há volta! Depois, enquanto o gajo que pedala o rikshaw e o Raj esperavam a minha volta, cada um no seu ponto de entrega, aproveitei o facto de estar sozinho para explorar um pouco as reulas de Old Delhi. O Raj não é nada entusiasta de me ver a andar sozinho seja lá por onde for, muito menos nas ruas estreitas, labirinticas e hipercongestionadas de Old Delhi- “If you desapear i lose my job”. !!! Por muito simpático que ele seja eu prefiro não desaparecer pelos meus próprios e óbvios motivos! Antes de me deixar ir no Risksaw disse-me varias vezes “be careful, ok?” Ok, mas estava a começar a sentir-me mais adaptado e relaxado. Estava a começar a desfrutar. E o que me interessa relamente não é ver monumentos e sim “the real Índia”, a vida diária, as ruas onde isso acontece. E onde melhor que Old Delhi? Vi um pequeno grupo de turistas ocidentais e discretamente segui-os. É incrivel como ver turistas ocidentais (menos do que esperava. Ou não ficam muito em Delhi, ou até sao muitos mas no meio de tanto indiano quase nem se vêm) me dá sensaçao de segurança. Ilusória diga-se de passagem. De que raios é que valem 2 ou 3 ocidentais desconhecidos e perdidos no meio de multidoes imensas de indianos em ruas estreiras e labirinticas? É curioso que no Brasil eu passava perfeitamente por mais um, e isso dava-me liberdade, a liberdade de passar discreto. Aqui sou um turista ocidental, sem a menor duvida! Talvez por isso não consegui atrever-me a adentrar muito as ruas de old Delhi sozinho. Uns 200 metros para dentro e senti-me completamente desamparado. Mais 2 ruas e novas tentativas de penetraçao depois voltei atrás contente por este primeiro passo de rebeliao contra os esforços dos meus organizadores de viagem. Disse ao Raj que amanha quero voltar. Ele disse que sim, claro, mas com aquela expressao tipica de quem diz, depois veremos, hei-de levar-te para outro sitio, verás. Rsrsrsrs

De volta ao centro, a New Delhi pois pedi-lhe que me levasse a algum templo de adoraçao a Shiva. Sim, claro, disse ele, mas afinal era um templo de adoraçao a uma dezena de deuses, tudo (mais ou menos) limpinho, bem decorado, cheio de visitantes mais que de peregrinos e devotos.

Como a jeito de compensaçao liberou-me (e a ele próprio) para noite, dando-me indicaçao de uma zona perto e boa (“full of tourist”) para jantar mesmo aqui ao lado do Hotel e ao lado da estaçao. Na realidade é o bairro ende estou, mas eu só tinha visto a minha rua, cheíssima de gente como todas, mas aparentemente não muito frequentada por turistas. Ledo engano, na esquina da rua que dá para a estaçao dei com um mundo hipercolorido, hiperactivo, ao estilo Old Delhi, cheíssimo de lojas de tudo e mais alguma coisa de com muitos hóteis e restaurantes, incluindo uma boa dose deles nitidamente dirigidos ao turista que por aqui sao bem visivéis. É uma especie de sitio para receber e despedir do turistas que vêm a Índia, pois é muito perto do centro e mesmo em frente a estaçao. Estou bem situado afinal de contas. Não que a zona seja “fina”. É suja, barulhenta, cheia de gente e caes vadios, corre-se o risco de ser atropelado a qualquer momento, mesmo ali, numa rua estreira, esburacada, enlameada, mal cheirosa e cheia de movimento a pé! Segura, apesar de se verem bastantes turistas ocidentais, também não deve ser, porque o Raj disse-me “be careful ok?” Ok. Mas é uma zona boa para o turista se hospedar, sair a noite, comer e dormir. Tem ali (aqui) vários sitios recomentados pelO Livro.

Já vi prédios dominados por macacos, e cabras, vacas e elefantes a vaguear no meio da rua. Hoje de manha ao pequeno almoço uma vaca ocupou insistentemente a entrada do restaurante a pedir comida. Ainda não acho normal. Viro-me e páro para ficar a olhar. É outro conceito quanto a organizaçao, higiéne, saneamento, potabilidade, etc. Um Europeu diria que pura e simplesmente não existe cá nada disso. Ainda não acho normal. Gente a dormir no passeio em todo lado, a qualquer hora, inconscientes de toda a poluiçao de todos os tipos, que aqui é o normal. Para mim ainda não. Todos os sitios têm gente na rua. Muita dessa gente não tem casa, vive ali mesmo. Come, dorme, compra e vende, trabalha, caga e tem filhos ali mesmo, no passeio, ou até na própria estrada. Alguns dormem tao despojados no cimento poeirento que parecem mesmo mortos. Ainda não acho normal. Mas agora que já começo a adaptar-me e a relaxar estou a gostar. Não da pobreza. Nem sei bem de quê. Talvez porque que é diferente. Talvez porque eu queria ver algo diferente. Talvez proque eu queria muito vir a Índia. Estou cá . ESTOU NA ÍNDIA. Estou feliz. E o resto logo se vê. Tudo há-se resolver-se e correr pelo melhor!
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Londres: neve e caos!

Um dos motivos pelos quais quis viajar nesta altura para Londres era para ver como é a Vida cá no Inverno. Como é o dia-a-dia de trabalho com a chuva, os dias curtos, escuros e frios.

Amigos de cá tinham-me dito que chove menos em Londres que no Porto. Eu não acreditei. Ninguém acredita. Mas é verdade. Em duas semanas não choveu muito. E sobretudo não choveu forte, dia nenhum. Todas as pessoas de Portugal me têm dito horrores do tempo lusitano e concerteza tem estado pior que cá. Ou entao é porque em Portugal temos outras expectativas e exigencias quanto a este assunto. Claro que esteve sempre “fresco”, a luz nunca chegou a abrir como num dia razoável em Lisboa, e um impermeável é quase indispensável em qualquer situaçao. Mas estava a ser muito melhor do que esperava. Pensei: sim, aqui pode-se viver sem problemas de maoir no que ao clima diz respeito. Até proque cá só faz frio na rua. Nas casas, cafés, escolas de yôga, mercearias, museus, etc, está tudo SEMPRE bem aquecido. Até as muitas casas que sao antigas, do tempo da guerra, antigos bairros sociais fabricados a pressa por todo lado, sao perfeitamente aquecidos. Na pratica no Inverno sofre-se muitíssimo mais frio em qualquer lugar de Portugal ou Espanha, onde supostamente faz mais calor.

Bem, estava bom tempo. Bom relativamente ás minhas expectativas. Estava. Esteve.

Ontem a noite começou a nevar. Foi tao bonito! Eu nunca tinha visto nevar a sério. Em poucas horas estava tudo branco. Lindo. Mas não parou. Hoje de manha estava tudo ainda mais nevado. E continuava a nevar. O metro não funcionava. Os bus também não. Os comboios também não. Os poucos taxis tinham pedidos de reserva com direito a esperar 3 horas. Ir ao aeroproto estava fora de possibilidade. Não há problema. O aeroporto que me ia levar para outro continente também estava semi inutilizado. Os voos da BA todos cancelados, incluindo o meu! E continua a nevar, até agora.

Dizem que foi o pior nevao em décadas. 60% das pessoas não trabalharam. 80% das escolas fechadas. Restaurantes, lojas e tal pelo mesmo caminho. O Hyde park cheio de gente a desfrutar da neve. Não sei se é bom ou mau. Eu espero poder ir amanha embora. Mas sinto que foi um último presente de Londres para mim.

Caos

O grande problema disto tudo nem foi o dia a menos no meu destino principal. O grande problema foi o day after, a ressaca. Tudo na cidade volto a funcionar. A neve dimunuiu ou passou a gelo. Mas no aeroporto estavam a tentar recuperar os atrasos, retençoes e atascos do dia anterior. Estava superlotado! Não diria caótico. E nisso, ser Londres creio que faz muita diferença, porque o que eu vi, s efosse em Portugal teria sido lindo...Embora isto tenha sido u m grande e aborrecido atraso para chegar a onde mais quero ir, de certa forma todo este caos é um pouco como se a Índia tivesse vindo até londres, numa missao de boas vindas e ambientaçao mental para a “normalidade” que espero encontrar neste continente.

Estive 3 horas de pé a fazer check do meu voo que tinha remarcado no dia anterior pelo telefone. Li um livro inteiro em pé na fila. A história de um teenager inglês que foi paar a índia atrás de uma paixoneta, passou horrores, foi abandonado, mas acabou pro adorar a experiência. Espero não ter exactamenet a mesma história para contar, muito embora o livrinho até seja bem divertido. Mas o meu programa é bastante diferente. Depois o voo atrasou-se mais 6 horas! Deveriamos ter partido pelas 11.50, mas partimos ás 17.50. Bom...

O mundo está mesmo pequeno. No aeroproto por acaso conheci uma francesa que se sentou ao meu lado e que me fez companhia boa parte do tempo atascasdos a espera do atraso. Infelizmente não ficamos juntos no aviao, como seria de prever. Mas isso teve um lado positivo. A meio da viagem descobri que o gajo no assento ao meu lado, que eu tinha assumido ser indiano, afinal era português!?! Aliás, tem dupla nacionalidade. É do Punjab mas vive em Lisboa a 8 anos. Trabalha nas docas num restaurante português, fala protuguês e veio de férias como eu, embora no caso dele a ver a familia. Isto é que é mesmo viver num mundo pequeno! Se calhar nem somso os únicos portugas on board!

Vou chegar daqui a duas horas a Delhi. Nao sei se tenho realmente Hotel marcado. Até tinha antes do meu voo ter sido cancelado. Entretanto até avisei do facto, para reservar para um dia mais tarde, mas não chegeui a receber resposta. Que s elixe. Apareço lá e pronto, deve haver algo livre. É no centro de Delhi. Tudo o que se quer deposi de dia e meio em viagem destas é uma cama e um banho. Resta saber que cama e que banho. Logo eu que até gosto de tomar banho de boca aberta, e na Índia nem uma gotinha de agua do cano posso beber!? Não há-de ser nada...

Estou finalmente a chegar a Índia. Era o que eu queria. Estou feliz.
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domingo, 1 de fevereiro de 2009

Casa em Londres



Londres, decerta forma, é a minha rampa de lançamento para a Índia. O Yôga, o SwáSthya, também. A minha casa aqui foi o SwáSthya yôga. A egrégora, com a qual tenho uma relaçao de amor-ódio à minha maneira, mais ou menos civilizada e sóbria. Na casa aqui vivem 3 instrutores, entre os quais o Professor Gustavo Cardoso e sua esposa, a também instrutora Sónia. A todos muito obrigado, foi realmente um prazer partilhar estas duas semanas. Espero ter sido leve.
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