sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Viajar, a sós ou com sócio?

Mais vale só que mal acompanhado, já diz o ditado. Mas mais vale bem acompanhado que só, digo eu. É bom partilhar. É essencial. Mas quando não encontramos ninguém que queira, ou possa, alinhar, o que devemos fazer? Eu sei o que faço: vou na mesma. Faço à mesma. Se puder viajar ou fazer com amigos, com um grupo, ou, ainda melhor, com companheira, prefiro. Mas senao não vou ficar parado, em terra, a ver navios.

Preciso de fazer, de viajar, de ver, de experimentar. Sou curioso, preciso de conhecer por mim mesmo, passar directamente pelas experiencias para aprender, e ás vezes até preciso de mais que uma vez. Assim que quando vi que o mais provavel seria vir sozinho assumi o facto e pronto, segui em frente.

Provavelmente amanha ou no dia seguinte vou para o Dayananda ashram, aqui em Rishikesh, e lá vou estabilizar, e lá vou encontrar gente conhecida. Mas estas primeiras duas semanas (que parecem mais) foi mesmo por mim mesmo. Mas quase nunca sozinho.

É curioso, olhando para trás, vejo que pouquissimas vezes viajei sozinho. Pelo menos mais que 2 ou 3 dias. E como sempre, desde que estou com a Joana aproveitei para não me preocupar com quase nada relativo a organizaçao das viagens, mesmo aquelas em que ia só eu! Eu não gosto dessas coisas, de papeladas, marcaçoes, horarios, pagamentos, etc. E também não gosto de pensar na viagem antes da viagem. E a Joana, como a maioria das mulheres, gosta de saber de tudo, estar precavida, assegurar-se, é mais pratica. Assim que durante uns anos não tratei de nada. “Quero ver um dia que não estejas cá eu”, ouvi várias vezes, tal como ouvia em casa com a minha mae, e outras muitas vezes depois. Mas eu sempre soube que isso era oportunismo, perguiça, que quando fosse preciso eu safava-me. E estou-me a safar, como sempre que foi preciso.

Dizem que quando viajamos com uma namorada ou esposa há grandes possibilidades de stressar e até acabar com o relacionamento. Porque a dois o normal é ficar-se muito juntos,cada um a apoiar-se no mundo conhecido que resta, invadindo constantemente o espaço alheio para além do que seria desejavel. E depois, se não há boa sintonia, ou se não está claro quem manda, e quase nunca existe boa sintonia nem está claro quem manda, as coisas podem ser complicadas. Muito complicadas. Até porque se entre o casal há “assuntos” pendentes eles continuam pendentes na viagem, não desaparecem, antes pelo contrario. Mesmo entre melhores amigos de toda a vida isso tende a ocorrer. Pode-se chegar ao fim (ou a meio!) da viagem e já estar com os cabelos em pé. E pode ser que tudo acabe ali mesmo. O que não faltam é casos desses por aí. A mim nunca me passou chegar ao ponto limite, mas já vi outros a chegar, e já saboreei um pouco a minha própria dose. E a Índia é o sitio perfeito para por tudo e todos a prova, porque isto não é a Europa, onde há supermercados em todo lado (eu ainda não vi nenhum aqui), onde tudo é mais ou menos limpo, seguro, previsivel...

Por outro lado, há quem se dê realmente bem, e que viajam a dois, pelo menos aparentemente, bem. Muito bem. Isso é maravilhoso. Estando sozinhos olhamos e dá inveja. Como seria tao bom ter ali alguém que gostamos muito e confiamos pelnamente para partilhar tudo.

Por outro lado viajar sozinho tem as suas vantagens. É que estamos muito mais abertos a conhecer outras pessoas. E aqui na Índia há muita gente a viajar sozinha, não só para estar ou estudar na Índia, mas também para conhecer outras culturas e sobretudo outras pessoas, de todo o mundo! É muito fácil conhecer gente em viagem! Conheci uma francesa no aeroporto em Londres que me fez companhia naquela fatigante espera. Por acaso encontreia outra vez em Delhi. No aviao conheci um indiano que vive em Portugal, em Alcantra! Em Delhi conheci brevemente uns 5 ou 6 viajantes, sobretudo no restaurante, mas acabei pr estar a maioria dos 4 dias com o meu motorista que era um gajo porreirissimo, por sorte. Só me ria com a coisas que o gajo contava. Mal me largou e passei para o comboio passei a conhecer uma média de 2 ou 3 pessoas por dia. Uns para pouco mais que um almoço ou passeio. Outros acabam por ser companheiros de um dia inteiro, ou até de mais de um. Já conheci espanhois (por todo lado), australianos, franceses, coreanos, americanos, noruegueses, suecos, holandeses, e gente sei lá mais de onde. A maioria gente entre os 20 e os 35 anos. Geralmente basta puxar conversa e já está. Além da companhia, contam-se histórias, dao-se dicas e sugestoes para a viagem. Partilha-se um pouco da Vida e da viagem de cada um. E isso é tao enriquecedor. Nesta viagem de 20 horas para Rishikesh conheci uma holandesa de 32, advogada, que está a viajar há 4 meses, esteve 2 meses a trabalhar nuns orfanatos aqui em Rishikesh, foi a Varanasi conhecer e volta para cá dizer adeus aos miudos antes de ir para a Holanda outra vez. Estivemos na conversa horas no comboio, dividimos o taxi desde Hardiwar, ficamos na mesma hospedagem e fez-me de guia pela parte que interessa de Rishikesh, que assim conheci logo bem no primeiro dia. Entretanto cada um vai ao seus afazeres. Nem sei se a volto a ver apesar de estarmos na mesma hospedagem, e nem me interessa, porque foi porreirissima mas é assim mesmo, vem e vai-se. Como já vieram e foram rápidamente bastantes pessoas em poucos dias. Algumas pessoas até agostariamos de conhecer melhor, porque temos coisas em comum, porque conectamos bem, gostamos. Mas talvez eu estivesse em direcçao a Varanasi e ele ou ela em direcçao a Bombay. Mesmo que volte ver esta “Nicole” (na maioria dos casos nunca se chega a decorar os nomes das outras pessoas) será para um “adeus, boa viagem, foi um prazer conhecer-te”. E sigo para bingo, que há mais que fazer, coisas para ver, outras pessoas para conhecer. Eu gosto de saber como vivem e viajam os outros por isso meto logo conversa e a garnde maioria está desejosa do mesmo. Mas não é um conhecer mesmo. Há pessoas com as quais podemos conectar perfeitamente de forma instantanea, e até podem surgir momentos de grande intimidade (intimidade no sentido de entendimento e cumplicidade) num breve momento. Mas, apesar de a maioria das pessoas em viagem estar bastante aberta e receptiva, a verdade é que não é a mesma coisa que ter um companheiro conhecido e constante, estável, com quem nem é preciso sequer olhar para saber o que o outro vai dizer, ou querer...

Enfim, varios lados da mesma moeda. Eu estou a gostar muito. Mas também me está a apetecer parar, estar com gente conhecida, ou conhecer gente mais tempo, conhecer melhor um lugar, fazer algo com principio, meio e fim.

Tenho esta ideia na cabeça de viajar por meses, de bicicleta ou de mota, talvez através da Índia, ou de outro país enorme, acompanhado ...

1 comentário:

  1. Olá António,
    Concordo contigo, às vezes temos que partir sózinhos, senao o fizermos corremos o risco de ficar à espera demasiado tempo por um companheiro de viagem. Foi assim que fiz milhares de Km de bicicleta nas minhas viagens.
    Mas viajar acompanhado de um amigo é bem mais enriquecedor.
    Fica bem e até um dia destes
    LUIS ALVES

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