sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Delhi, real India

Ponho-me a pensar como seria Delhi, a Índia, há 40 , 30, 20 anos... Quase sem automoveis, sem telemóvéis, sem internet. Quando os voos ainda não eram tao acessivéis. Quando os turistas e indianos ainda eram estranhos com curiosidade uns dos outros, à descoberta uns dos outros. Tento imaginar essa Delhi, um pouco menos ruídosa. Suja mas não tao poluída. Cheia e caótica, mas não tao frenética. Nessa altura a Índia deveria ser realmente uma aventura muito especial, tanto que cativou hippies, aventureiros, estudantes e viajantes até hoje.

Hoje, a índia continua a ser especial, com o muito antigo e o absolutamente moderno a conviverem em tao perfeita fusao que não se consegue dizer onde começa um e acaba o outro. Com esta miscegenaçao total de culturas. Com um hinduísmo tao vasto e diversificado em continua regeneraçao. Continua a ser outro mundo para quem sai da acéptica, organizada e segura Europa. Mas concerteza que até há uns 15 ou 20 anos era mais “outro mundo”, mais inacessivel, menos, globalizado na monocultura universal, mais Índia. Não sei..

A maioria dos turistas fica uma ou duas noites em Delhi. Poucos ficam mais. Porque Delhi é ruidosa, suja, poluída, não especialmente bonita, nem em termos paisagisticos naturais nem em termos monumentais. É um ponto de chegada a Índia, e de partida para outras Índias. Vao como eu para Rishikesh para fins especificos, filosóficos, espirituais, esótéricos, culturais e sem lá mais o quê. Ou atrás de um guru, para alguns ashrams noutra parte qualquer do país. Ou vao para sitios mais new age, tipo Goa, Shimla, Puksha, Dargeelling e afins, seja praia, montanha ou deserto. Sitios onde predominam os turistas, as festas, a droga, o engate. E isso não tem mal nenhum, só que se fosse isso que procurasse tambem poderia fazer em casa, ou pelo menos mais perto.

Eu não venho á procura de monumentos, embora não recuse vê-los. Os mais imponentes sao quase todos do periodo de dominio mongol, portanto de cultura predominantemente islamica. Pelo menos nesta area mais ao norte onde tenho andado até agora. Os hindus até têm mais templos um pouco por todo lado mas chegam a ser do tamanho de uma televisao! Mas o que eu quero ver antes de ir para Rishikesh, uma cidade relativamente pequena, considerada cidade santa, cheia de ashrams de yôga e afins, e totalmente invadida por turistas espirituais, o que quero ver antes, dizia, é a real Índia. As gentes, as cidades, o dia-a-dia banal digamos assim. E para isso posso bem ficar em Delhi mais uns dias. Aliás, se quiser voltar, e parece-me que vou querer, esta será sempre a mais provavel porta de entrada, por isso só me convém conhecer quanto mais melhor. Alarguei a minha estadia a 4 noites. Deu-me tempo para ambientar, relaxar e começar a conhecer alguma coisa mais que o centro onde todos os turistas chegam e ficam, em geral o minimo de tempo possivel.

Uma das coisas que fiz foi voltar a Old Delhi. Delhi é o conjunto de várias Delhis construidas pelos diferentes impérios que a dominaram. O actual centro é do periodo inglês, que foi construido para aí colocar a capital da colónia (tirando-a de Calcutá). A parte “velha Delhi” corresponde grosso modo ao periodo de maior apogeu e crescimento da cidade, o de dominio mongol. Old Delhi, é uma enorme zona de ruas estreitas com prédios de mais ou menos 3 ou 4 andares, onde passam alguns carros e muitas motas, mas onde sobretudo há muito transito de pessoas a pé atras dos seus afazeres, essencialmente de comércio. Sao milhares e milhares de pequenas lojas e oficinas a comprar, vender e consertar quase tudo o que se possa imaginar. A zona é algo labirintica. É tipo um bazar gigante. Passadas duas horas mais ou menos a deriva, sozinho, tinha-me perdido totalmente, e ido parar a um lugar muito longinquo do original, onde o boy do rickshaw me esperava de volta. É uma zona tipica, que , exceptuando os carros e motas, não deve ter mudado muito nas ultimas centenas de anos. Milhares (ou milhoes?!) de pessoas vivem e trabalham ali, naqueles meandros sujos poeirentos, poluidos, muitas vezes em casas-loja que não têm mais que 3 ou 4 metros quadrados! Não o creio que exista saneamento básico, pelo menos a funcionar decentemente. E a agua não é potavel, pelo menos para os ocidentais. O cheiro nas ruas é em geral mau. Mistura cheiro a fritos, bosta de vaca, de humanos e de sabe-se lá mais que bicharada, especiarias, oficinas de mecanicos e sobretudo muito tubo de escape. Tudo junto num pó intoxicante. O nariz e garganta sentem isso como uma secura de mau sabor que ao limpar é negra. Dito assim oparece terrivel, e é. Só não é pior porque os indianos sao pobres, por isso aproveitam quase absolutamente tudo! O que eles não aproveitam as vacas, os caes, os macacos e os ratos comem! Reciclagem natural. Concerteza fazem menos lixo que nós coidentais, que consumimos muito mais e onde tudo vem num saquinho de plástico. Enfim...

Old Delhi acabou por ser a parte de Delhi que mais gostei. Porque ali é onde mais vejo a “real and incredible Índia”: caótica, frenética, absolutamente cheia de gente, suja, colorida, com uma grande variedade e misegenaçao cultural...

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