Entre os dois Camp's de Vedanta, o anterior e este que estou a fazer, tive quase 20 dias com pouco para fazer. Ainda por cima a maioria dos meus amigos daqui estava de viagem turistica algures pela Índia. Por isso aproveitei para sair do ashram e ir para Laxmanjhula (a ponte mais a norte), mais perto de onde estava a praticar yoga, aproveitando também para fazer uma alimentaçao mais variada e saborosa. Pratiquei intensamente, como nunca antes na minha vida. Em média 4 horas por dia. 4 horas por dia de asana (as tecnicas corporais).
Ashtanga Vinyasa Yoga.
Este metodo é o mais na moda no mundo ocidental actualmente. Resumindo é um metodo inventado por um indiano e aperfeiçoado por outro seu discipulo há cerca de 70 a 50 anos atrás, para dar aulas a crianças e adolescentes de um palacio para o qual foi contratado numa missao meio de professor de yoga meio de educaçao fisica. E é isso que o método é: um metodo que é meio asanas de yoga e outro meio de educaçao fisica. Sao só tecnicas corporais. Eles dizem que tem pranayama (respiratorios) e meditaçao incorporados. Não vou ser obtudo e dizer que não tem. Afinal de contas, queiramos ou não, temos sempre de respirar e se possivel devemos praticar concentrados e conscientes no que estamos a fazer. Também tem bandhas (contraçoes de plexos e glandulas) e drishtis (olhar concentradamente para algum ponto). Mas convenhamos que tudo se passa dentro do asana. Sao as tecnicas corporais que sao o foco. E é por isso que este metodo é tao popular actualmente no ocidente (indianos mesmo a praticar este metodo sao poucos). Consiste em fazer 1 série (ao todo, entetanto, já “codificaram” 6 series) de posiçoes, encadeadas umas nas outras atraves de vinyasas, que na pratica sao variaçoes de surya namaskar (sequencia de posiçoes chamada “saudaçoes ao sol”). Porque o movimento é quase constante e os movimentos devem ser coordenado com a respiraçao chama-se “vinyasa”. E a verdade é que de vinyasa tem muito, agora de ashtanga yoga tem pouco. Ou nada. É asana mesmo. E esse é o ponto forte e fraco deste metodo. Para quem gosta de suar fazendo um trabalho fisico intensivo que mistura força e flexibilidade, através de asana forte e feito com poucas pernanencias (5 a 8 respiraçoes) é o metodo quase perfeito. Para quem quer algo mais...tera de migrar para outro estilo, porque neste, depois de dominar a primeira seria a unica coisa que há é... mais 5 series de crescente exigencia! E no mundo inteiro so há uns 2 ou 3 gajos que supostamente dominaram as 6 series. Aliás, mesmo a primeira já é bastante pesada e suficiente para 90% dos comuns mortais. Este não é o estilo indicado para quem estiver com problemas fisicos. Aliás, só dá para quem estiver razoavelmente bem e quiser ficar ao nivel de artista de circo ou ginasta olimpico. É demasiado intenso, cansativo (extenuante), exigentea nivel de flexibilidade, e sobretudo rápido. Não da para que a pessoa que coloque cuidadosamente na posiçao. Não dá para relaxar e meditar na posiçao. E pelo tipo de pratica tende a ocasionar problemas de joelho e de base de coluna. Se o professor que ministra a aula for como a maioria, que faz ajustes brutais no praticante, “ajudando-o” a colocar-se em posiçoes que a partida o corpo não parece permitir, entao temos um caldinho bastante picante! Mas se o praticante já tiver alguma experiencia e autoconhecimento, souber os seus limites e se souber defender, em geral não há grandes problemas. E, para quem lhe assentar bem, é divertido. E toca a suar. Suar muito. Tanto ou mais que numa sauna! Não estou a exagerar. Só a primeira serie, que sao cerca de 25 asanas com variacoes, mais os vinyasas, dura cerca de 2 horas a fazer, e sua-se abundantemente desde os primeiros 10 minutos!
Para mim, que sou de tendencia kapha, terra, de bases sólidas e com tendencia a ficar (demasiado) estável, tendendo a inerte, este tipo de pratica dinamica assenta-me como uma luva. Ainda mais que eu gosto de suar, este suar de exercicio fisico intenso! Custa-me. Ainda mais porque tenho problemas graves nos joelhos que me limitam em elgumas posiçoes. Mas gosto, acho divertido, entretido. Mesmo se a pratica é tao intensa que não consigo fazê-la todos os dias. Nunca vou ser um “ashtangi”, que aliás é um grupinho de yogis tremendamente vaidoso e geralmente bastante ignorante. Aliás, ainda nem sequer sei se considero isto yoga ou não! Mas que é divertido é. Gosto. Faço como desporto. Já levo 15 praticas e vou fazer mais.
Alguns professores que conheco dizem-me que este estilo de yoga, segundo os principios do ayurveda (a suade segundo os vedas) desiquilibra todos os doshas e todos os sistemas biologicos da pessoa. Dizem tambem que e himsa (agressao) ao proprio organismo... Eu ja estudei um pouco de ayurveda e pretendo estudar mais. Mas por enquanto nao sei fazer este tipo de avaliacoes. Alias, cada vez mais, o que mais me importa e como me sinto. Porque gurus a dizer tudo e mais alguma coisa, assim como o seu contrario, e o que nao falta. Assim, cada vez mais, procuro observar-me e avaliar pro mim mesmo! E tenho-me sentido bem.
Emfim. Tenho praticado com o Kamal, no Tatwa yogashala. É um professor impecável. Não é brutal, não é 100% ortodoxo, e é cuidadoso, atencioso e informal. Deve ter uns 30 anos e de aspecto fisico parece imensamente o Michel Jackson, e algumas colegas de pratica dizem que acham que ele é gay. Não sei. Mas que todos gostamos imenso dele isso gostamos. Ainda lá vou voltar algumas vezes mais. O melhor deste gajo e que ele nao e um "ashtanga teacther" ortodoxo, daqueles que procura ser mais Pattabi Jois que o proprio Patttabi Jois, e que forcam os alunos nas posicoes com verdadeira brutalidade, que muitas vezes acabam com problemas graves de joelhos ou lombar. Este ate usa straps e blocos para ajudar nas posicoes, evitar problemas de joelhos, etc. Ate evita duas ou 3 posicoes da serie para ser cuidadoso, e nao forca ninguem... Embora este nao seja o meu estilo, a verdade e que este professor e excelente. E um bom professor e meio caminho andado. Definitivamente a minha natureza nao e a ortodoxia!
O mais engracado e que , nao tendo nada mais que asana, nao tendo mantra...tem! Como as aulas sao guiadas e a pratica e sempre igual, toda a pratica acaba por ser um mantra, sempre igual, do inicio ao fim. O professor diz exactamente as mesmas coisas, da mesma forma... E o ingles dos indianos costuma ser muito divertido!
Iyengar yogaAntes da moda do Ashtanga “vinyasa” yoga se instalar um pouco por todo mundo (fora da Índia) a partir da década de 90 do século passado, o estilo mais famoso de praticar Hatha yoga era aquilo que hoje se conhece como “Iyengar yoga”. Iyengar yoga é a forma como o mestre
Iyengar e os seus seguidores praticam Hatha yoga, mais propriamente asana! O Iyengar também aprendeu os passos iniciais com o krishnamacharya, o mesmo mestre que inventou originalmente o Ashtanga “vinyasa” Yoga. Mas nunca chegou a ser um praticante ou seguidor desse estilo. Antes praticou essencialmente sozinho, intensamente, durante muito tempo. Aos poucos foi desenvolvendo o seu estilo, conforme os seus gostos e necessidades, bem como os gostos e necessidades dos seus alunos. Um estilo com atençao a problemas de saude, com alguns tiques terapeutico portanto. Mas nem por isso suave. Acabou por se transformar num método quase oposto ao anteriormente referido: parado, estátito, sem nenhum “flow”, um “flow que agora esta tao na moda. E isso não é nenhuma critica, até porque essa (estática) é que é a forma mais classica e ortodoxa de asana.
A certa altura, lá pelos anos 50/60, um famoso violonista travou contacto com ele, gosto do que viu, trouxe-o ao ocidente e incentivou-o a escrever um livro, que viria a ser o famosissimo
Light on Yoga, um dos melhores e mais famosos livros de Hatha yoga de toda a história do yoga, e que influenciou grande parte das escolas, professores e praticantes de todo mundo! Esse estilo de Hatha yoga, que hoje tem nome próprio (“Iyengar yoga”), consiste essencialmente em praticar asanas, as tecnicas corporais. Á medida que os ocidentais se tornaram a força predominante nessa pratica o metodo foi-se tornando mais e mais resumido ao fisico. Hoje o metodo é uma refinadissima pratica de tecnicas corporais, que se pratica com imensos acessórios (cordas de parede, blocos, straps, varios tipos de almofadas e cobertores, pesos, etc.). O especial desta pratica, é a atençao ao detalhe, que tem um nome generico de “alinhamento”. A atençao ao detalhe é quase tao estenuante e exagerada como no metodo anterior sao os vinyasas constantes. É incrivel o nivel de detalhes que se devem ter em atençao em posiçoes relativamente simples. Os apoios dos pés sao dissecados ao milimetro. Mas o alinhamento dos quadris consegue ser ainda mais dissecado. O encaixe das pernas nos quadris, o encaixe dos braços e ombros no tronco, a rotaçao dos ombros, dos joelhos, das coxas, os apoios de maos, o alinhamento da cabeça... Sao promenores sem fim!
Fiz um curso intensivo de 10 dias seguidos, 2 horas por dias, com um professor daqui, chamado Suryans. O tipo não é o mas conceituado de Rishikesh. Os mais conceituados sao o Rudra Dev, antigo professor de Hatha yoga do Sivananda Ashram e discipulo senior de Iyengar, que entretanto ganhou ganhou fama e na decada de noventa abriu a sua própria sala para se dedicar a dar aulas nesse estilo. Aos poucos o pranayama desapreceu da pratica e ficou so o asana. A sala dele esta no lado oposto a todo o movimento de Rishikesh, é imunda e está cheia de alunos fervorosos atras do mais famoso professor de “Iyengar” de Rishikesh. A segunda professora mais conceituada é uma velhinha Suiça, chamada Usha Devi. A incrivel história desta mulher pode ser vista a partir deste
site. Tal como o professor anterior tens as aulas demasiado cheias. E tal como o anterior prima pelo estilo hiper exigente e militarizado de dar aulas. “Isso está uma merda” é algo que pode ser considerado algo quase atencioso, uma especie de elogio iyengarizado dado pela velhinha, que depois conta uma piadinha e ri para desanuviar. Menos atencioso será por exemplo um pontapé ou uma verdascada para assinalar algo mal executado numa posiçao! Ou simplesmente para obrigar o praticante a lidar com o ego, diz-se...O meu professor, Suryans, ainda que dado a poucos elogios, era de estilo menos militar. Menos, so um pouco menos... E como ainda nao tem tanta fama é menos pretensioso e pode ser mais atencioso. Atencioso demais! Não de simpatia, mas de atençao ao detalhe! Em 10 dias, 2 horas por dia, 20 horas portanto, devemos ter feito, ao todo umas 13 ou 14 posiçoes! Não chegamos a fazer shirshasana (a posiçao sobre a cabeça) e só tentamos um surya namaskar, a saudadçao ao sol. Mas a meio dessa tentativa abortada o gajo disparou logo “ you are not ready. You see, i told you, not ready”. !!! “You can t do shirshasana whith out knowing this, you are not ready you see, i told you, you see”. !!! "You cant do pranayama, you are not ready you see, i told you, you see, not ready”. Ás tantas eu já não sabia se me havia de rir da forma dele falar ingles se do exagero dado aos detalhes e as constantes repetiçoes para voltar a tentar girar ligeiramente o joelho mais para fora, ou a parte de fora do pé mais contra o chao, ou o osso da frente dos quadris mais para cima, ou os ombros mais abertos... Trikonasana, trikonasana, trikonasa, trikonasana... !!! E eu nem sou nada de especial em asana, mas tambem não sou um iniciante. E estavam la alunos antigos de Iyengar, e até professores! Eu, sinceramente, não sabia que poderia haver tanta coisa para ter em atençao numa posiçao, seja ela qual for.
E por isso adorei. Adorei porque aprendi. Aprendi muito sobre asana. Sobre detalhes que algumas vezes fazem muita diferença. Detalhes que salvam um joelho, detalhes que mexem realmente com toda a estrutura muscular dos quadris, com o encaixe da coluna, detalhes que têm reflexos importantes quando nos viramos ao contrário num shírshasana, etc.
Adorei aprender, e como foi para aprender que cá vim fiquei extremamente satisfeito. Adorei aprender e quero saber mais. Mas isto não se aprende em 10 dias, em 20 horas. Aprende-se em 10 anos, em 2000 horas. Em mais...
Mais uma vez, o único problema deste método, como do anterior, é que é só ásana. Este ainda e mais so asana que o anterior, se e que isso e possivel! Eles bem falam em “open eye meditation”, meditaçao no corpo, “the intelegent body” e blá, blá, bla. Mas convenhamos que isto é asana. Só asana. Asana muito bom, mas apenas e so asana. E se o yoga fica so pelo asana nem yoga é!
Yoga é conhecimento. Conhecimento de si mesmo, do Todo, da realidade. E por isso cá estou no Dayananda ashram, a fazer curso de Vedanta, de filosofia própriamente dita. Porque isto de meditar no corpo, ou conhecer-se através do corpo e tal, é uma conversa muito bonita, mas é para quem quer sentir-se bem consigo mesmo por não saber, nem querer saber, mais nada!
Aliás, o meu corpo, depois de 2 semanas a 4 horas pratica fisica intensiva por dia está ressentido. Está cansado, dolorido, retraido. Precisa de descansar para assimilar.
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