sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Experiências espirituais


Quem me conhece bem, principalmente quem me conhece a mim e ao meu mundo do yôga bem, sabe que uso o termo espiritual de forma irónica e provocadora. Provocadora para com o meu próprio mundo do yôga, provocadora para mim mesmo, ironica para quem não me conhece assim tao bem, e por isso nem sequer pereceb a ironia.

Não me considero uma pessoa espiritual. Nem não espiritual. Mas o que nao me considero e "espiritualista", alguem obcessionado com essa tal de espiritualidade, seja la o que isso for. O DeRose esta certo. A espiritualidade existe, está aí. É parte da existência, da consciência, da Vida. Como o corpo, ou as emoçoes... Mas ninguém anda por aí a dizer que é “corporal”, ou que vai fazer viagens “corporais”. Quem está sempre a falar do corpo sao as pessoas gordas ou doentes. É o mesmo da “espiritualidade”. Quem fala constantemente nisso é quem está com problemas na area. Senao a “espiritualidade” simplesmente está ali...

Mas no mundo do yoga a maioria das pessoas gosta de se dizer espiritual, que o yôga é espiritual, que a espiritualidade isto e aquilo e aqueloutro. A maioria das vezes nem sequre sei do que estao a falar. Estao a falar de filosofia, de religiao, de pensamento, de intuiçao, de intimidade, de Deus, do “si mesmo”, de tudo, de nada...de quem, de quê? Tenho a certeza de que a maioria das pessoas não faz a minima ideia, porque quando pergunto não conseguem responder.

Mas neste blog, só para chatear, vou também falar de espiritualidade, de viagem espiritual, de yôga como algo espiritual, de eu ser espiritual...é uma mini libertaçao pessoal em relaçao a alguns preconceitos e condicionamentos. Rsrsrsrsrrs

Londres espiritual

Em Londres pratiquei bastante, intensivo mesmo. Muitas vezes duas x por dia, uma hora e meia cada pratica. SwáSthya, geralmente ao fim de tarde, e algo mais pela manha. Como do SwáSthya já estou farto de falar vou falar do resto. Mas continuo a achar que o SwáSthya é a melhor experiência de yôga que já tive até hoje.

Durante 10 dias fui todos os dias ao centro de Jivamukti Yoga em Londres. Além de ficar a 5 minutos a pé de onde estive a morar tinha curiosidade em conhecer proque é uma das escolas actualmente mais famosas. Um franchising em expansao pelo mundo. Tornou-se famoso nos anos 90 quando a escola de NYC (entao a única) acolhia frequentemente gente conhecida do mundo do cinema e música, como Sting, Madona, Shara Jessica Parker e outros. Com essa publicidade e com a explosao de numeros no mundo do yoga ocorrida desde 2000 a escola tornou-se uma empresa, internacionalizou-se, e está hoje presente nas principais capitais mais ricas do mundo. É uma escola de ambiente agradável, em algumas coisas até parecida com o SwáSthya, que organiza workshops regularmente, faz sat sangas, e tem uma prática simples, adaptada e simplificada do Ashtanga “vinyasa” yoga, não seguindo essa pratica a rigor, o que, na minha opiniao é um ponto positivo a mencionar. O promenor que achei mais interessante é que no começo da classe e no fim, durante o relaxamente/descanso em shavásana (não tem yôganidrá) os instructores passam nas costa e depois no pescoço, de uma forma massageante, um creme relaxante (ou estimulante, nem sei bem) daqueles que deixa uma sensaçao intensa de frescura, e sobretudo um cheiro muito agradável. Tendo em conta que a pratica faz suar imenso é um aroma e frescura bem vinda. E quando estamos deitados no fim a relaxar a sensaçao é fantástica. Não tem nada a ver com yôga própriamente dito, mas sabe bem. E uma parte significativa dos (dAs) alunos compram o dito creme á saída da escola... O problema destas escolas, com este tipo de pratica, é que ao fim de 10 dias eu já sabia a pratica dememória, e começou a ser repetitivo. Por um lado é bom, porque dá para ir percebendo a evoluçao masi rápida e claramente. Por outro é extremamente limitado. Mas gostei! E recomendo, pelo menos que experimentem. De qualquer forma, em Londres como em boa parte do mundo, 90% do yôga é Iyengar, Ashtanga “Vinyasa”. Ou uma adaptaçao e mistura desses. Ou Bikram. Ou seja, tende a ser muito repetitivo, muito focado no fisico, e encarado como fitness. Para mim não chega. Mas é bom conhecer... Estou plenamente convencido que o SwáSthya em Londres vai ter muito sucesso. A nível de pratica não tem comparaçao.

Delhi espiritual

Em Delhi só fui visitar uma escola. Fui visitar o Aurobindo Ashram, em south Delhi. Ou seja, o “Delhi branch”, pois o original é perto de Bombay, onde existe quase uma “cidade Aurobindo” chamada Aurobindoville. E existem outras “branch”. Este de Delhi também é enorme. Gigante! Não é uma escola de yôga. É um complexo urbanistico gigante, onde também se pode ir praticar ou estudar yoga. Mais própriamente o yôga ensinado pelo Aurobindo e a “mae” (a sua esposa), e pelos seus díscipulos. E que yôga é esse? É o chamado yôga integral. Integral no sentido do yôga que está em tudo, presente em todo lado, o tempo todo. E sobretudo nos actos mais cotidianos, rotineiros e politicos da Vida! Um dos lemas de Aurobindo e da “mae” era de que “contorçao não é yôga”. Por isso nem se praticava Hatha Yôga tradicional, com os tipicos ásanas. O que se fazia era principalmente tarefas sociais e educacionais, geralmente em grupo, principalmente dirigidas a crianças, o futuro da humanidade. Por isso, a parte menos importante do ashram sao as salas de pratica, essencialmente dedicadas a sat sangas e meditaçao, sendo as poucas (e suaves) classes de Hatha Yôga consideradas uma “concessao a pressoes exteriores”, ou seja, aos estrangeiros que vao visitar e residir no ashram. E esses estrangeiros sao importantes pois me parte sao eles que financiam tudo aquilo. Aliás, em parte sao estrangeiros que gerem também, sobretudo francofonos. O principal é a mega escola que o complexo contém, com jardins, hortas e instalaçoes desportivas incluidas (um luxo no meio de Delhi), e que dá educaçao a centenas (ou milhares, nem sei) de miudos indianos.

Aurobindo, que viveu parte da juventude na Europa, mais própriamente na França, ainda foi responsavel por introduzir o conceito ocidental de evoluçao no yôga moderno, acreditando que a Humanidade está a evoluir em direcçao a auto-consciencia total, uma iluminaçao global. E o Yoga é um meio e um fim nesse processo. O Aurobindo não foi apenas um Jñana Yogin, não foi apenas um lider espiritual, foi também um lider politico, que descobriu o yoga na prisao, quando participou de motins nacionalistas e independentistas nos quais o Gandhi também estev envolvido. Embora seja uma escola algo ocidentalizada, ela foi extremamente importante na Índia, e no yoga mundial, e em Delhi o Aurobindo até dá nome a uma das maiores avenidas da cidade, precisamente aquela onde está instalado o ashram.

Outro aspecto importante foi o protagonismo que “a mae” alcançou. Na realidade era a esposa, francesa, que era a máquina por detrás de tudo o que aconteceu, o Aurobindo quase nem saiu do quarto durante anos, onde se auto enclasurou a meditar e escrever, só saindo para dar o darshan (ser comtemplado), de vez me quando. O facto da esposa ter tanto protagonismo, assim como o facto de ser um yoga integral, que se descobre e revela em todas as coisas comuns e cotidianas fez com que este yoga fosse desde sempre assumidamente tantrico, e isso a certa altura era rompedor de preconceitos...

Quem quiser pode procurar mais nos seus sites, é interessante.

Varanasi espiritual

De Varanasi não tinha nenhuma referencia sobre escolas de yôga. Assim que recorri ao LP. Não é uma grande referencia em termos de yôga, mas é melhor que nada. Apontando a sorte poderia calhar entrar num daqueles centros onde esperam que turistas desavisadAs estejam "open minded" para clases e cursos de yoga "intimo", sexual, e sabe-se la mais o que! A verdade e que aqui na India ainda nao consigo discernir a spessoas e os locais pelo aspecto. Mesmo em casa e dificil, quanto mais aqui. Escolhi a sugestao da “Yoga trainning center” porque o sitio era bastante central e acessivel. Como vim entretanto a descobrir, a escola é dirigida por um professor e sua esposa, que também dao as aulas. Ele (não lembro o nome) que deve ter uns 35 a 40 anos, é encorpado (para um indiano), tem um bom ásana e ri muito, deixando frequentemente a mostra os dois dentres podres e pretos que tem mesmo a frente. Pelo que percebi é relativamente conhecido não só na Índia mas também pela participaçao em eventos internacionais de yôga. Não percebi quem é, ou foi, ou se teve, o seu mestre. Ela (não lembro o nome) deve ter uns 25 a 30 anos, pequena, simpática e boa de ásana também. A escola é essencialmente de Hatha Yoga, dando aulas de varios graus e estilos, e também formaçao a professores. Agora, se me estivessema contar isto eu já estaria a imaginar uma escola toda tradicional, provavelmente grandinha, com salas de pratica equipadas, enfim, uma certa sofisticaçao e tradicionalismo... Nada mais longe da verdade. Na realidade é só um terceiro piso minusculo e imundo de um prédio no meio de uma Varanasi ainda mais suja e congestionada. Teias de aranha por todo lado, pó também claro, de vez em quando vê-se um amacaco, ou um lagarto, ou um rato a passar pelas janelas, a maioria sem...janelas. Besuntar-se com repelente para mosquitos convém. A sala principal, de uns 25 a 30 metros quadrados, tem um “colchao” daqueles de pano redobrado no chao. E não se pense que ali se usam aspiradores. Directamente conectada a essa esta outra sala mais pequena, com de metade do tamanho e com um chao vermelho de uma material que aparente um dia ter sido alguma especie de tatami. Isso é a “escola”. Do lado de fora da sala, nos corredores de acesso ao ar livre deixam-se os sapatos, acessa-se o cubiculo onde se fazem as necessidades (sem lavatorio) e tem-se acesso ao quarto e cozinha da casa dos profs. Isto pode parecer tudo meio ridiculo, e pronuncio de que ali nada de bom pode haver. Mas estamos a falar de Índia, de Varanasi, onde é tudo assim, e as ruas estao ainda mais sujas e degradadas, e cheiram a merda. Por isso está dentro do contexto. Aliás, na Índia nem é o yôga-técnica que procuro, porque isso eu sei que no ocidente há mais e melhor. O que procuro é esse contexto. Quero ver a cultura onde o yoga se desenvolveu, ver o ambiente, os alunos, a forma como os professores de comportam, etc.. Se puder aprender algo de técnica melhor.

Esta escola (como a maioria) é especialmente orientada para ocidentias. Ainda mais sendo recomendada pelo LP! Quando cheguei para informaçoes estavam dois formandos a treinar uma sessao de Reiki! Sim, ali também se dao sessoes e formaçao de Reiki, que aliás etás um pouco por todo lado, sei lá proquê!? Isso sim, assutador... Um desses formandos era um jovem indiano com bom aspecto, e foi o unico aluno indiano que vi. O outro era um jovem austriaco, com aspecto meio hippiezado. Também vi uma terceira formanda, uma jovem venezuelana, que estava sempre muito compenetrada nas praticas. Passavam lá boa parte dos dias, a fazer todas as praticas. Em algum tempo obteriam o diploma de participaçao no “yoga teachers trainning center” e já poderiam chegar a Europa de diploma indiano na mao!

Eu fui primeiro a uma pratica da tarde chamada de "Hatha yoga tradicional", indicada para iniciantes. Estavamos 8. Começou logo com ásanas, feitos numa ordem que me pareceu não obedecer a nenhum critério especial. Mas foi forte, e gostei. Fizemos também alguns pranayamas. Fraquinhos. E depois veio a melhor parte, a meditaçao... Meditaçao do riso! !!! !?!?! Sim, meditaçao do riso, “instantanea”, “very good meditation”, “”let s fake it until you make it”. Eu nem estava a acreditar! Mas lá me ri, mas foi da cara do professor. Inacreditável. Eu sei que isto da “meditaçao do riso” não é novo, tem muitos adeptos, e ali pareceu-me uma coisa a lá OSHO. Mas em estava a acreditar. Foi uma paródia. Mas lá fiz, e ri, e foi divertido. Meditaçao mesmo nada, mas divertido foi. E gostei da aula, resovi voltar na madrugada seguinte para mais uma, supostamente de Ashtanga “Vinyasa” yoga. Voltei, estavamos metade dos do dia anterior, e mais uns 8 novos. Fui para a asalinha de trás, para o grupo do avançados. Os outros fizeram uma pratica do genero da do dia anterior, meditaçao do riso incluida. Nós ficamos com a esposa, que começou a dar-nos forte e feio nos ásanas, alguns repetidos. Não teve quase nada a ver com o conhecido “Ashtanga “Vinyasa” yoga”, mas forte e dinamico foi. Não foi nada de especial, mas até foi bom. Suei imenso, depois fizemos uns paranaymas , depois uma meditaçao esquisita... Ok, nem foi mau.

O melhor foi ver o ambiente. Uma coisa que tinha percebido logo na chegada a Índia, e no caso a esta escola, é que eles sao muito menos ortodoxos que os ocidentais. Eles não têm pudores nehnuns em adaptar, inventar, acrescentar, improvisar e brincar com o yôga. Básicamente fazem o que bem lhes apetece, assim que venda. E como sao indianos é yoga e pronto, ninguém discute. Depois aqueles formandos ocidentais que fizeram o “curso” de professores (básicamente consiste em ir as aulas) vao para a Austria ou Venezuela e ficam todos rigidos e hirtos, ultra ortodoxos, e dizem que tem de ser X e Y porque “eu vi na Índia”, “fiz curso na Índia”. Pois...

Nessa segunda prática conheci uma australiana de aspecto tailandes, e uns americamos e fomos tomar o pequeno almoço. Tinha percebido que a americana, no minimo, já tinha praticado. Em conversa logo nos confessamos, ambos professores de yoga lá na terrinha. Rsrsrsr Acabamos por passar o dia inteiro juntos (os 4) e percebi que ela até tem um percurso bastante comum, parecido com o meu, cheio de ilusoes e desilusoes, periodos de grande envolvimento, entrega e pratica com outros de maior distanciamento e reflexao, etc. Apesar de ser uma judia Nova iorquina temso muitíssimo em comum, e adorei estar a conversa com ela.

Entretanto cheguei a Rishikesh, “capital mundial do yôga”, cheia de ashrams, gurus, “babas”, e praticantes de todo o mundo. Vou ver e depois conto mais.

Estou em Rishikesh! Estou mesmo...

1 comentário:

  1. Olá António :) acabei de ler todo este blog de uma só vez, e cheguei a uma conclusão: lembra-me para nunca viajarmos juntos! é que parece que pensamos da mesma maneira e por isso ía ser a maior confusão!! sem mapas, sem planos, e com a mania de que tudo acaba bem hahaha bonito. ou talvez sim, perdíamo-nos, éramos enganados, apanhávamos uma má disposição qualquer, mas achávamos que valia mesmo a pena! Nota-se que estás muito feliz, e isso é tudo. Com mais ou menos companhia, mas a gravar tudo na pele. E sabes que deste lado está sempre gente que gosta de ti e com quem podes partilhar, ainda que através do teclado. Aguardo Rishikêsh :) Segue para boa viagem. Beijinhos!

    ResponderEliminar