terça-feira, 3 de março de 2009

Dia a dia em Rishikesh


O primeiro curso de Vedanta acabou há precisamente uma semana, no outro Domingo. E para o próximo faltam quase duas semanas. Inicialmente tinha previsto aproveitar este descanso de 3 semanas para viajar mais aqui na Índia, a algum sitio no Himalayas, ou lá perto. Tinha pensado em ir a Dharmashala, onde vivem os tibetanos refugiados do Tibete, nomeadamente o Dalai Lama, que fica ainda mais a norte, não muito longe daqui, faz-se a viagem em menos de um dia. Mas entretanto apeteceu-me mais ficar por aqui mesmo, a praticar, a estudar, estável, que está-me a saber bem. A Índia é muito grande. Tem quase tanta coisa para ver como a Europa inteira, é um sub-continente. Por isso não daria nunca para ver tudo. Prefiro ver agora um pouco e assentar a aprender algo a sério aqui. Outra vez verei um pouco mais.

Está-se particularmente bem aqui em Rishikesh, que é pequeno e bastante ao norte. Está a aquecer, mas está seco, o que ajuda. Não vale a pena trazer casacos para cá. Basta uma camisola mais quente, para a madrugada ou alguma noite mais ventosa. Está parecido ao Verao português. Só que o Verao a sério aqui é muito mais quente, e ao mesmo tempo chove. Chove muito, é a epoca das chuvas. Não quero cá vir me Maio ou Junho. Além do calor intenso tornar tudo mais desconfortável, dizem que, junto com a humidade, cria um ambiente propicio a criar todo tipo de virus e bactérias, e por isso também aumenta o perigo de contrair doenças variadas... Como sou calorento já estou a achar quente demais, mas ainda está bastante confortável. Dá até para tomar uns banhos nas praias do Ganga, o que os hindus consideram bastante auspicioso. Só que a água é gelada, não é muito limpa, e ainda por cima não é muito comum ver gente despida nas ruas, mesmo homens, embora homens em tronco nu a tomar banho no rio não seja mal visto. Mas ainda não me estreiei. Amanha vou a umas cachoeiras uns Km rio acima e talvez me aventure por lá...

Entretanto tenho praticado muito. Duas vezes por dia. Uma vez faço eu mesmo a minha pratica, outra vou a algum lado fazer com algum professor. Tenho feito umas praticas bastante intensas e começo a sentir o meu corpo a ganhar vida outra vez. Ás vezes também fico bastante cansado. 3 horas por dia de pratica, em média, mais quase outras tantas a caminhar, cansa. Quando não pratico passeio, vou visitar outro ashram, ou algum tempo, ou leio, ou fico na conversa com alguém. De qualquer forma aqui não acontece absolutamente nada depois das 10 da noite. Aliás, é bastante normal já estar tudo nos quartos, e talvez a dormir, por essa hora. E não há TV! Por isso também se acorda cedo. Ás 4horas da manha (!!!) o ashram ao lado toca para acordar para o primeiro pujá do dia, ás 4h30! Neste ashram o primeiro é as 5h. Não dá para não acordar. Eu tento voltar a dormir e volto a acordar por volta das 6.30, 7...

Aqui no ashram está tudo calmo. A maioria dos cerca das 250 pessoas que estiveram no primeiro curso foi-se embora, a fazer as suas vidas. Outros foram viajar. E outros, como eu, cá estao, a espera do curso seguinte, ainda a praticar e estudar, mas num ritmo mais tranquilo e autonomo.

Descobri que a comida no ashram, quando não está a haver nenhum curso e há menos gente, passa de ser monotona a ser...sempre igual! Já não tomo o pequeno almoço aqui há mais de uma semana. Prefiro comprar sumos e fruta e comê-lo no quarto. No refeitório não servem fruta nehuma, pois é (mais) cara. Só arroz, um guisado à base de batata com lentilhas ou ervilhas, chapata (pao espalmado tipo panqueca) e um caldo picante. Todos os dias. Entre refeiçoes há chai (chá indiano, ou seja, chá com leite). De vez em quando almoço ou janto fora. Por dois euros aqui come-se muito bem num dos muitos restaurantes dirigidos a turistas. Entretanto está a ocorrer um curso de yoga de 2 semanas aqui no ashram, pago e bem pago (cerca de 1500 euros por 2 semanas) no qual estao presentes uns 40 ou 50 europeus, americanos e asiáticos. Embora seja no ashram não é bem uma actividade do ashram, é apenas um curso nas instalaçoes do ashram no qual algum swami dá uma aulita de sanscrito e vedanta. Já tinha reparado que num curso de yoga que houve antes do meu primeiro curso de vedanta que para os praticantes estrangeiros de Hatha yoga (leia-se “yoga essencialmente á base de técnicas corporais”) eles até separam e diferencias as refeiçoes, com o cardápio a ser mais diversificado, rico e nutritivo. Realmente só mesmo um monje renunciante é que é capaz de achar satisfatório viver com aquela raçao diária tao monotona, com tanto hidrato de carbono e com pouco de tudo o resto. Ou entao sou eu que estou mal habituado. Ou bem...

Por cá está tudo bem. Óptimo mesmo. Ás vezes fico com saudades, mas em breve já estou aí outra vez. Ainda mal passou um mês desde que cheguei e parece muito, muito mais.

A minha mae mandou-me uma frase do Miguel Torga bem bonita: “
«transpor as fronteiras uma a uma é morrer sem nenhuma»”. Viajar é bom.

3 comentários:

  1. Que linda frase para terminar o post. As mães, sempre com sabedoria. A minha mãe faz anos hoje, e adoraria visitar a Índia, apesar de ser com propósitos bem diferentes dos teus. Vim só dizer bom dia! beijinhos :)

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  2. Cada um viaja como gosta e pode...é preciso é não ficar amarrado ao sítio onde se nasceu.
    «As pessoas não fazem as viagens, as viagens é que fazem as pessoas»John Steinbeck

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  3. A propósito: já leste A viagem do elefante,do José Saramago? O elefante e o seu condutor são indianos.
    moral da história(não me lembro se as palavras são exactamente estas):"sempre chegaremos onde alguém nos espera"

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