segunda-feira, 16 de março de 2009

Os rios na Índia e o banho ritual no Ganges


Os rios na Índia não sao apenas cursos de agua. Sao cursos de agua que dao Vida, e por isso tendem a ser divinizados. Nao significa isso que tratem os rios com mais respeito que nós no ocidente. Antes pelo contrário. Com o tempo tudo tende a automatizar-se, radicalizar-se e tornar-se sem sentido. Como os indianos consideram os rios sagrados não se importam muito com a poluiçao que os contamina, porque o caracter sagrado, para eles, tem origem divina e independe das caracteristicas quimicas que uma qualquer analise demonstre! No ocidente, com os novos conhecimentos cientificos e as filosofias naturalistas e ecologistas pelo meio acabamos por respeitar e procurar proteger muito mais os nossos rios que aqui os indianos fazem com os seus. Mas isso é hoje, em que todas as culturas se influenciam mutuamente, se regeneram por fusao, e acabam por aprender e ensinar umas as outras. Mas antes, no passado, os indianos, nomeadamente os hindus, com a sua cultura cheia de deuses, muitos dos quais herdeiros de conceitos e culturas muito antigas, animistas e xamanicas, eles já tinham a sua forma de divinizar os diversos aspectos da natureza, e nomeadamente os rios. Assim, é muito comum que os sitios onde os rios de encontram uns nos outros, ou a foz dos rios, ou sobretudo as suas nascentes sejam considerados lugares sagrados, auspiciosos, lugares de peregrinaçao.

De todos os rios, o mais famoso, o maior da Índa actual, é o Ganjes, ou melhor, a Ganga.

Aqui faço um aparte para contar uma história que uma vez ouvi. As nossas calças de “ganga” devem o seu nome ao Ganga, pois o azul dos jeans seria a cor do Ganga... Não sei se é verdade, mas é possivel.

Aqui em Rishikesh é um lugar especial da Ganga. É o lugar onde o Ganjes deixa os seus desfiladeiros de montanha, e já mais ou menos volumoso deixa-se desfilar pelas enormes planices do sub continente indiano. Logo, aqui é um óptimo lugar de partida para subir rio acima atrás das várias nascentes do Ganges, e nomeadamente do Gangotri, uma nascente directamente nos gelos das montanhas que, um pouco mais longe, já sao os Himalayas. Todas essas nascentes sao lugares sagrados, lugares de peregrinaçao, especialmente para sadhus e yogis, e quase todos eles têm templos e ashrams. Espero um dia poder subir rio acima e descobrir tudo isso pessoalmente.

Entretanto não é preciso grandes peregrinaçoes para tomar um auspicioso banho no Ganges! Aqui em Rishikesh, cidade santa e onde o rio ainda é relativamente limpo e muito bonito, tomar um banho é ritual bastante comum. Se for as 4.30 da manha, no Brahmamurti, quando tudo está mais calmo, é considerado ainda mais auspicioso. Entrar na água gelada é um mini sacrificio, uma forma de honrar a mae ganga, uma outra forma de rezar, orar, purificar-se, gerar bom karma.

Eu não sou hindu. Sou fascinado por alguns aspecto das culturas que aqui abundam, mas não sou hindu. Nem quero ser. E mesmo que quisesse, o facto de não ter educado aqui faz com que algumas coisas não tenham grande sentido para mim. Percebo-as intlectualmente mas não sao do coraçao. Assim, quando alguns conhecidos ocidentais têm a brilhante ideia de se levantarem as 4 da manha para ir tomar um banho ritual ao Ganges eu simplesmente passo. Não consigo entregar-me assim tao facilmente a um ritual ou cultura. Parece-me algo meio histérico, vazio de sentido, uma mini festa, uma colagem, daquelas tatuagens que em poucos dias desaparecem, um querer ser mais papista que o papa, ou neste caso mais hindu que os hindus.

Mas não poderia deixar a Índia sem um banho no Ganges. Ainda mais estando aqui 2 meses ao lado do rio! Aproveitei que esta a ficar cada vez mais calor, aproveitei umas horas de almoço livres, aproveitei uns recantos absolutamente lindos e geralmente tranquilos que o rio tem aqui nalgumas das suas curvas, ainda não tomado pelas contruçoes, pelos ashrams, pelos hoteis, restaurantes e lojas. Entrei, mergulhei, até me deixei dar os 3 mergulhinhos tipicos que um indiano qualquer toma, daqueles meio saloios, de mao a tapar o nariz e os olhos fechados rsrsrsrs. Depois sequi-me ao sol forte enquanto leia mais um livro. Soube mesmo bem.

Mas convenhamos que nem se compara a um banho salgado, de atlantico, numa das belas praias de Portugal. Isso sim é ritual, é purificante. É auspicioso!




2 comentários:

  1. Olá Tó:
    Mais uns dias e já podes surfar por aqui.
    Vai tudo bem contigo?
    Vai dizendo...
    Um abraço

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  2. Mmmm... essa das calças de "Ganga" parece-me mito urbano! :)
    Foi preciso coragem para mergulhar, ah?
    um abraço

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