terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Viajar ou não viajar...

Quando ainda estava em Portugal passei a última semana básicamente a hibernar. Muita gente me dizia mil e uma coisas acerca da viagem que estava prestes a começar.

Uns diziam que eu ia adorar a Índia, outros que ia detestar. Por isto, por aquilo, por aqueloutro... O mais curioso é que nenhum desses lá foi, ou conhece sequer um vigésimo do que eu sei por estudo e curiosidade intlectual. Já eu não sabia, e não sei, se vou gostar ou não, e nem tenho pressa em saber. Se já soubesse para quê ir lá? Quando lá estiver logo vejo. Logo conto.

Outra coisa que ouvi muito foi: “vais voltar?”. Essa foi possivelmente a pergunta que mais me fizeram. E eu fiquei intrigado proquê, já que eu sempre parti do principio que sim, vou e volto. Não sou vidente e nem faço planos muito rigidos mas suponho que sim, vou voltar. Será que eu tenho cara de hippie, ou transmito a sensaçao de querer fugir de alguma coisa, ou estar a procura de alguma outra, ou seja lá o que for que levava as pessoas a pensar que poderia não voltar? E voltar para onde, para o quê, para quem? Sou um cidadao do mundo, já dizia Socrates... Sou o mundo, diria eu! Ok, temos ego, ligaçaoes emocionais, familia, gente chegada, uma terra mais nossa, mais casa. Presumo que sim, voltarei.

Outra pergunta que se tornou cada vez mais frequente foi: “estás excitado com a viagem?” R: Não. Não estava mesmo. Na realidade estava bem em casa, a hibernar. Eu gosto, e gostei ainda mais talvez por saber que durante 3 meses pelo menos não ia ter isso. Não, não estava excitado com a viagem. Como sempre fiz a mala no dia antes, tomei as vacinas na manha do dia que parti, etc. Só no dia da viagem é que começo a viajar. Quando estava em Espanha também não estava a pensar muito em Londres, e agora que cá estou pouco penso na Índia. Talvez na próximo domingo a noite comece outra vez a sentir o estomago a mexer-se...

Em geral consigo viver e desfrutar mais ou menos bem o presente, “ o momento”. Principalmente se estou a fazer o que quero, se não me sinto preso. Se estou muito preso e parado sinto-me limitado, frustrado, e começo a sonhar... E claro que também já me senti assim, faz parte, mas não me posso queixar. Se estou a viajar, conhecer pessoas, conhecer mais yôga, aprender mais, e com prespectivas de continuar asism um bom tempo mais sinto-me preenchido e realizado. Não preciso sonhar, porque o sonho está a realizar-se acordado. E chego ao fim do dia cansado, durmo profundamente. E a Vida flui. Definitivamente preciso de movimento, não me posso deixar aterrar muito. Preciso de estar a aprender ou construir. Empenhado ou solto. Ou os dois. Preciso de estar a descobrir novas possibilidades de existir, ou a evoluir numa delas. No movimento encontro mais vigor, e até mais estabilidade. Parado no mesmismo soterro. Como eu não sou muito idealista, não creio em progresso e não acho que eu ou o mundo esteja a evoluir em direçao a coisa alguma tenho dificuldade em entregar-me a construir um projecto. Falta-me a conviçao de quem sabe que é absolutamente necessário e útil. Sem esse idealismo para me aquecer o sangue carburo mal. Por isso acabo por encontrar mais facilmente satisfaçao em simplesmente conhecer, descobrir, em ser supreendido, em abrir possibilidades de existência na minha consciência, em entender. Comtemplar.

Claro que tudo tem os seus momentos. Ontem o meu corpo somatizou esta recente evoluçao. Duas semanas a mexer tanto, a praticar tanto, a conhecer tanto, a dormir nao tanto, a mudar tanto, tanto a mais do que antes, tem o seu preço, o desgate de estar a mudar, o preço de estar em movimento continuo: cansaço, depressao, saudades, RESSACA. Tenho óptima memória, em geral não esqueço nada nem ninguém, pelo menos do que é improtante,. Mas também nao sou de estar sempre a pensar no que ficou para trás, a pensar no que nao tenho aqui e agora. Nesse aspecto sou positivo. O que tenho aqui e agora é a oportunidade de conhecer mais, de crescer como pessoa, e isso é o que eu quero. No entanto hoje lembrei-me de tudo aquilo que é casa. Principalmente de todos os que sao casa. Vou aliviar um pouco, não muito. Isto faz parte, e passa. Tudo tem sempre o outro lado.

Tudo tem sempre o outro lado...

Uma das frases que mais tenho ouvido entretanto é: “Ai que inveja, também queria...”. A sério? Queria mesmo? A maioria das pessoas que me dizem isso poderia fazer exactamente o mesmo que eu, se quisessem. Agora. Se realmente quisessem. Mas as pessoas dizem que querem da boca para fora. Se quisessem mesmo faziam. Mas não querem. Não querem deixar a sua casa para trás por 3 meses e resumir a sua carga a uma mochila que nem sempre dá para desempacotar. A casa para a qual trabalham pelo menos 2 semanas por mês (mais uma para o Estado, e, com sorte, trabalham alguns dias para dar Vida ao que supostamente realmente gostam). Nao querem deixar a merda de emprego que têm e que dizem odiar todos os dias. Não querem sequer pensar em ficar 3 meses longe dos que mais gostam, mesmo que se queixem deles todos os dias. Não querem ver que poderiam fazer isto se quisessem, tao simplesmente como dizer: quero e vou. Sim, isso pode ser assutador, porque isso desperta o poder da escolha em cada um, a responsabilidade por fazer o que se quer, o risco de sair do suposto “tem que ser”... Não tem de ser. E os pai se os filhos, o patrao, o sistema e a crise não sao desculpas. Ou melhor, sao desculpas! A maioria não quer fazer uma viagem destas, a maioria quer mesmo a rotina que já vive. Incluindo o queixar-se de tudo e todos, o achar que tudo é dificil, que está tudo mal, o dizer “que inveja, também queria...” E isso não tem nada de mal.

Hoje não digo que vos invejo e também queria. Mas digo que tudo tem o outro lado, que viajar sem pensar no amanha não é mesmo para todos, que mesmo quem gosta muito, como eu, ás vezes tem saudades de casa, tem saudades de vocês.

Beijos.

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