quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Preconceitos 1: Índia, uma invençao moderna


Na mente romantica do ocidental condescendente, os indianos sempre foram um povo muito gentil que aceitaram e integrar as mais diversas culturas que chegaram à sua Índia...Ora, Eles não são assim tão bonzinhos e tolerantes. Mas, de facto, continuam a absorver muito de outras culturas, como sempre.

A “Índia” é uma invenção moderna e ocidental que os próprios indianos estão a tentar assimilar, tentando (com grande ímpeto e dificuldade) criar uma identidade indiana.

Antes de meados do século xx nem existia formalmente tal nação, e ainda agora é dificil manter aqueles ex reinos todos, com a sua hiperdiversidade cultural, juntos e em sã convivência. Tanto que há partes constantemente a lutar por autonomia e independência. O mais engraçado é que muitos indianos abraçaram o nacionalismo com grande impeto, e esse nacionalismo indiano afirma-se primeiramente contra ocidente, contra a Europa, contra os britânicos, contra os judeus...esquecem-se é que o próprio ismo-nacionalismo é algo tipicamente europeu. O nacionalismo foi a grande religião europeia do seculo xix e básicamente implodiu com as duas grandes guerras mundiais no seculo xx. Os indianos (e pakistaneses, cidadãos do bangladesh, etc) ainda estão a reviver os ismos ocidentais do passado. Não é de espantar que os principais actores que promoveram e impulsionaram os movimentos nacionalistas da Índia (e do Pakistan, etc), todos foram educados no ocidente, nomeadamente na Grã-Bretanha.

A Índia moderna vagueia por entre esse anti-europeismo que no entanto continua a fasciná-la. Por exemplo: o dinheiro é cada vez mais o factor predominante na hierarquia social, e não já a casta, seguindo assim o modelo de classes sociais do ocidental. Outro exemplo: a lingua franca é o inglês, e não o hindi ou qualquer outra linguagem, e desde logo não o sânscrito. Os indianos voltaram a valorizar parte da cultura antiga (os textos vêdico-brahmânicos) só depois que os europeus os traduziram e começaram a interessar-se por eles. Caso mais explícito: o Bhagavad –Gíta que após a tradução do sânscrito para o inglês e deste para o hindi passou a ser extremamente popular. O próprio yôga só voltou a ser popular e socialmente importante à medida que mais e mais ocidentais o requisitaram, e sobretudo à medidada que nós os ocidentais rumávamos a oriente levando os bolsos cheios de doláres e depositando-os com veneraçao e submissao aos pés dos gurus. Agora há milhares de gurus, todos prontos a oferecer-lhe yôga prêt-a-porte!
O sistema de ensino tradicional, a tradição oral de mestre-a-discipulo reunidos e pequenas seitas, está a ser definitivamente substituido pelo modelo ocidental resultante da revolução industrial: a educação de massas. A Índia vagueia por entre a tentativa de manter um regime democrático (também um modelo europeu) e pela inveja (medo e admiração) da China com o seu modelo bem sucedido de comunismo capitalista (otros modelos economicos europeus).

Na sua afirmação nacionalista, nessa tentativa de forjar uma identidade indiana, que também se afirma por reacção ao Pakistan e ao seu islamismo (apesar de a Índia ser um dos principais países islamicos do mundo, com muitos de milhoes de muçulmanos), os indianos andam muito atarefados a tentar reconstruir o seu passado, procurando (e encontrando, pois quem procura encontra) as raízes daquilo que seria a sua cultura milenar, o tal de santana dharma, que os estrangeiros deternimaram chamar genericamente de hinduísmo. Acontece que a cultura da Índia pode ser antiga, mas não tem nada de eterna. Ela é a mais diversificada, plural e contraditória que existe. E tem influências de todos os povos que a invadiram (pacificamente, militarmente, comercialmente, culturalmente, etc) e essas influências tão dispares são o que mais carateriza o dito Hinduísmo, que na sua hiperdiversidade é indefinivel e apropriável, até por indianos! "Hinduísmo" é um estrangeirismo. Os ingleses usaram-no como termo genérico para designar aqueles que nao eram muçulmanos ou sikhs. "Hinduísmo" é uma... nao coisa! E essa nao coisa contém mil e uma coisas diferentes. Tantas que os ingleses nem se deram ao trabalho de as nomear. Quando alguém se diz hindu isso nao quer dizer quase nada. É como dizer que sou ocidental. Quanto é que isso diz sobre mim?

Claro que para um indiano activista do orgulho indiano-hindu (de que o Gandhi, um filho cultural do ocidente, foi um dos progenitores) tudo isto é insultuoso e inaceitável.

Para um orgulhoso hindu o que é de louvar é encontrar “provas cientificas” que demonstrem que a sua genética e cultura são “suas” desde há milénios. Que muitos antes de britanicos, portugueses, árabes, mongóis, hunos, gregos e todos os demais, já existia uma grande civilização muito avançada, com os valores da sua cultura “eterna”...blá, blá, blá...

Outra expressão cultural tipicamente europeia que os indianos ainda estão a assimilar é a divisão epistolomógica dos saberes entre ciência x religião x filosofia x arte...É uma divisão típica da Europa moderna, dos seculos xviii a xix, que surgiu aqui por motivos especificos, mas que os europeus exportaram tão bem com o seu dominio militar-comercial. E os indianos continuam a absorver cultura europeia, que utilizam para...tentar renegá-la! Rsrsrsrrs.

E o mais engraçado de tudo é ver ocidentais a colaborar com os nacionalistas hindus, muitos deles radicais e anti-ocidente, nesse esforço por encontrar a autenticidade e superioridade dessa (suposta) cultura.

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