sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Yôga: ser ou nao ser...

Estilos de yôga: Bikram yoga.

Hoje fui experimentar uma prática nova. Nova para mim...

Actualmente estou num momento de grande abertura e tolerância. Momentaneamente nao estou formalmente conectado a nenhum mestre, método ou instituiçao de yôga. Claro que continuo a ter grande próximidade e referências no Swásthya yôga e sobretudo no Mestre DeRose. Foi aí que comecei, foi aí que cresci para o yôga e como yôgin, é parte essencial da minha formaçao. E quanto mais conheço outros aspectos deste mundinho chamado yôga mais valorizo o Swásthya por tudo de bom que tem, por tudo de bom que aprendi e aprendo, por todas as coisas e pessoas maravilhosas que passaram a fazer parte da minha vida devido ao SwáSthya. E claro, também me apercebo cada vez melhor das suas limitaçoes, tiques, manias, pretensoes, problemas, idiossincrasias e loucuras. Os próprios e aqueles que sao tao comuns neste mundo, e em todas as pessoas e grupos de todos tipos... O yôga é muito humano! Mas isso é outra história.... O certo é que neste momento nao me sinto pressionado a aceitar linguagens, definiçoes, posicionamentos, compromissos, métodos, missoes, objectivos e metas advindos de conveniencias grupais, empresariais e de outras pessoas em geral. E como em todos os momentos de transiçao, em que nos damos a chance de parar para reavaliar e reprender tudo de novo, em que voltamos a deitar as cartas sem medos, prontos a recomeçar o que nunca acabou, podemos ser completamente honestos conosco próprios, incluindo para aceitar o que nao sabemos, as nossas indefiniçoes, o que é diferente, etc. Eu sempre fui curioso, relativamente aberto e tolerante a conviver e conhecer o que há de diferente, a conhecer e “provar” outras coisas, mas neste momento sinto-me mais solto que nunca! Desde logo sinto-me pronto a aceitar que chamem yôga a tudo e mais alguma coisa! Os pretensamente mais ortodoxos sao sempre muito possessivos e ciosos do que consideram “autêntico”, verdadeiro, serio, e, em última análise, seu! Mas convenhamos, os mais ortodoxos costumam ser pretensiosos, uns chatos “pedantes”. Todos com a mania de que a sua verdade é mais verdadeira e importante que a dos demais, cheios de maniazinhas e complicaçoes. Que se... No extremo oposto estao as multiplas empresas que vendem os seus produtos utilizando os esteriotipos, clichés e ideias feitas sobre o yôga sem o menor problema, desde que os seus directores de matketing os convençam que é a melhor forma de publicitar o seu empréstimo bancário, ou o seu colchao pseudo ortopédico, os seus medicamentos infalivéis para as dores de cabeça, o seu pacote de férias idilicas, e por aí vai. Ninguém parece ter problemas em vender o yôga, ou em ganhar $ com o yôga. Ninguém a nao ser alguns pseudo espiritualistas, pseudo anti-materialistas, 99% deles absolutamente hipócritas, egomaniacos em busca de poder, reconhecimento e atençao, desesperados por dinheiro com os quais possam pagar as suas necessidades e vicios, tal como qualquer outros. Ainda abundam tanta gente dessa no mundinho do yôga! Pelo meio desses extremos, os ortodoxos e os que só utilizam a imagem do yôga para vender o seu peixe que nada tem a ver com o yôga há outra categoria. Uma categoria que eu chamaria de “academias de yôga”, que sao aquels locais que vendem o yôga sem grandes ortodoxias e também sem grandes pretensoes, a não ser a de que é yôga. Essencialmente vendem yôga como fitness ou terapia, um fitness terapeutico que se supoe “espiritual” em alguma medida ou forma. Há varias formas e estilos. Variadas embalagens e conteudos. Nos últimos dias aqui em Madrid provei mais um: Bikram Yoga

Bikram Yoga

Para introduçao uma mini história. O dito Bikram é de nacionalidade indiana. Isso da-lhe a oportunidade de chamar yôga ao que bem lhe apetecer! Nao importa se quer chamar yôga a fazer umas posiçoes dentro de uma sauna, ou juntar um grupinho de gente depressiva para rir-se à toa, se se é indiano têm-se a partida uma certa legitimidade para chamar yôga ao que se quiser. Legitimidade perante os próprios indianos porque na Índia ninguém se preocupa muito com isso. Cada um que invente o que bem lhe apetecer. Se for muito excêntrico à partida terá seguidores e provavelmente tornar-se-à um Deus mais. Se ganhar dinheiro e tiver seguidores ocidentais entao melhor ainda... Mas legitimidade também no ocidente porque a maioria dos ocidentais acha que todos os indianos sabem yoga. Como no estrangeiro também acham que em Portugal todos gostamos de fado, o cantamos, tocamos, etc. Pois... Nao gostamos, nao tocamos, nao sabemos. Mas ideias feitas sao poderossisimas, predispoem-nos a crer por preconceito, a confiar! Supostamente o yôga é coisa de indiano, e supostamente so indianso sabem yôga. Mesmo se o indiano for analfabeto, ou tenha passado grande parte da sua vida no ocidente, ou a sonhar com o ocidente e as nossas riquezas, sejam ellas os nossos belos automoveis, as nossas belas e liberais mulheres, ou até o nossos Deus!

Voltando ao Bikram. Este senhor gostava mesmo era de desporto. Incluindo alterofilismo. E parece que algures na sua fase de criança/adolescente teve realmente alguma instruçao na pratica de Hatha yôga, nomeadamente enquanto pratica de educaçao fisica/saude/terapia. Entertanto veio para o ocidente. Por sorte nuam altura em que o ocidente virava a oriente e estava sequioso de yôgas, gurus e outras coisas orientais. E acabou por encontrar a sua formula para “dar certo”. Criou um metodo de yoga, seu! Deu tao ecrto que se pode dizer que estamos perante um dos mais bem sucedidos empresários da area com uma cadeia de franchising bem sucedidda mundialmente (origem nos E.U.A.). Nao só se tornou rico e famoso, ele é um verdadeiro pop star, pelo menos entre os seus séquitos e admiradores. Foi o primeiro a querer registrar comercialmente todo um método de yoga (nao apenas um nome/marca), e há longos anos que organiza competiçoes de yoga. !?! (Ao escrever competiçao de yoga percebo que ainda não sou completamente tolerante e liberal quanto ao que se deveria chamar yoga!).

Bem, indo directo há minha experiencia pessoal.

Começando pelo fim: gostei. Gostei como pratica de tipo desportivo. Algo como um spinning mais interessante e variado.

A sala estava aos seus belos 40 graus (talvez um ou dois mais). Esta é a imagem registrada do método Bikram (pelo menos para um semi-leigo como eu). Estavamos 26 macaquinhos apertados numa sala com não mais de 60 metros quadrados. Só isso já aqueceria mais que suficiente qualquer sala. A professora, com um inconfundivel sotaque norte-americano, não tinha sequer espaço para demonstrar. Não faz mal, os alunos mais antigos a frente dao o exemplo visual. Estavamos pelo menos 8 novatos. Não faz mal, pratica é relativamente simples, essencialmente fisica, facilmente visualizável portanto, e por isso fácil de aprender e seguir. Começamos com 2 minutos de respiraçao simples feita de pé, mas feita da forma mais estranha que já vi. Não percebi bem o porque da forma, nem o objectivo mas concertez que há uma resposta perfeitamente válida . O ar tao quente começou logo a aquecer ainda mais o corpo, e talvez fosse precisamente esse o objectivo. Um ou outro praticante começou logo a sofrer com o calor! A maioria começamos a suar fortemente logo neste ponto. Fomos logo directos ás posturas. 24 creio, cada uma delas repetidas 2 vezes numa sequeência pré definida,. A maioria fácil. Algumas com variaçao avançada para os que têm mais facilidade. Pela 5ª ou 6ªpostura já estava tudo bem suado ao nivel de sauna. Alguns já se deitavam no chao tentando respirar melhor, ou simplesmente não desmaiar e sucumbir. A instructora dizia: “no problema, hacer solamente que puedas. Bueno bueno”. Sinceramente não creio que seja saudável para alguém de caracteristicas marcadamente fogo e ou ar, pessoas naturalmente quentes ou voláteis. Concerteza não é indicado para quem não gosta de suar, ou de ver gente suada. E é impossivel não ver: companheiros a menso de meio metro em qualquer direcçao, espelhso por todo lado. De vez em quando a instructora lá fala um pouco em concentraçao, ou dá um toque de espiritualidade à pratica: “no es fisico, es todo mental, esta todo en la mente (com sotaque amaricannoouu)”. Pois... Para mim não há separaçao, e nem sequer distinçao, entre corpo e mente, mas que neste caso o mental está submergido na sua forma mais densa não tenho dúvidas. Náo é só o meu corpo. O dos meus 25 colegas semi-nus e absolutamente suados a menos de meio metro de mim também ocupam uma parte significativa da minha mente! Por sorte estava rodeado de alguns corpos extremamente agradáveis. A professora diz: "respirar profundo, absorver el prana, la energia en el aire". Espero que o ar condicionado seja realmente mágico, porque prana naquelas condiçoes eu nao consigo imaginar. A certa altura lá nos deitamos em shavasána (deitados de costas no chao, estendidos e imóvéis, a “posiçao do cadáver”) e a instructora diz: “agora imóveis alguns minutos. Simplesmente sinta a sensaçoes. Esta é a parte de meditaçao”. !?!. Para mim meditaçao náo é uma parte. Mas assumindo que pode ser induzida técnicamente numa parte da aula, certamente também não consiste em ficar 2 minutos deitado no chao, absolutamente suado, a tentar desacelarar o coraçao e respirar mais suavemente, “sentindo as sensaçoes do corpo”. Mas tudo bem, não estava ali para me chatear com nada e sim para conhecer algo novo e diferente, desfrutar e até talvez aprender algo novo. E senti-me realizado. Lá terminamos a sequência com mais posturas no chao e pronto, foi isso. 1H30 de actividade fisica agradável em calor intenso. Suei muito. Até me soube bem. Coloco a hipótese de repetir.

Não sei se posso considerar o que fiz yôga. Eu chamo yôga a uma filosofia de Vida, uma filosofia de autoconhecimento que está presente sempre, em qualquer coisa e momento da Vida. Mas que também é enquadrada por uma cultura especifica que no meu caso inclui uma certa linguagem, conceitos, filosofia, praticas e até ritos que advém da tradiçao hindu indiana. Afinal, foi dentro dessa cultura, e como parte dela que o dito yôga como filosofia surgiu e se desenvolveu por milhares de anos. Acho que tal cultura é boa para enquadrar o yôga. E além disso eu gosto dessa cultura, em si mesma, até independentemente do yôga. IE o yôga independe de todas as culturas, mas todas as pessoas tem alguma cultura, pensam, têm estruturas mentais, paradigmas... Assim, se queremos yôga a sério parece útil eleger uma cultura tradicional,com ele relacionado, para do yôga (o meio, o como) podemos extrair o máximo, e contextualizar o que daí se extrai. Isto que fiz, apesar de ter sido concebido por um indiano e de lhe chamarem yoga, para mim, é tanto yoga que uma sessao de spinning. Eu até gostei. Eu gosto de desporto em geral. E gosto, e até preciso, de exercicio dito aéróbico, gosto e preciso de suar. Até gosto bastante de sauna. Assim, este tipo de actividade assenta-me bastante bem. Ainda mais que é um tipo de exercicio bastante mais completo, inteligente e saudável que simplesmente correr ou dar ao pedal. Mas chamar isto de yôga? Não sei. Para mim não. Se o Bikram e alguém mais o quiser fazer tudo bem, que o façam, têm todo direito. Mas eu, apesar da minha actual abertura e tolerancia estarem em nivéis máximos, e os compromissos e atrelamentos a definiçoes comerciais em niveis minimos, ainda prefiro restringir e precisar um pouco aquilo a que chamo yoga. E não é isto. Porque se isto é yôga, porque o yôga está em tudo, é tudo, é a própria Vida a tornar-se consciente de si mesma, é o (um) meio pelo qual essa tomada de consciência se processa, entao deixa de fazer sentido falar em yôga. Porque passa a ser mais um tudo que é nada... E eu ainda não quero chegar aí. Estou perto, mas há que manter algum pé em terreno mais firme e limpido, por mais ilúsória que seja essa firmeza e limpidez. É preciso manter alguma base para a linguagem, o discurso, a comunicaçao, a relaçao... É preciso um pouco de definiçoes e diferenciaçao! É preciso dizer que o yôga é X e nao é Y. O ego existe, é util a si mesmo, faz-se necessário. E o meu ego diz que Bikram e yoga têm algum relacionamento, algum parentesco distante, mas sao coisas diferentes. Como aqueles primos perdidos de terceiro grau de que tomamos conhecimento aleatório de vez em quando, e a que chamamos familia, mas que na pratica nem é...

1 comentário:

  1. Que bela prática!
    Atenção ao português, visual é com S.

    Beijos e continuação de boa viagem

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